James concordou com a testa fria e os lençóis encharcados de suor. O nome ainda ressoava em sua mente — Nyara . Uma palavra que não pertence ao idioma de Vandhros, mas que pulsava em sua memória como uma lembrança esquecida. Era como se já tivesse sido ouvido antes, em outra vida, em um sonho que não era só dele.
Na parede, o espelho permanecia silencioso. Nenhum reflexo, nenhuma imagem, apenas a vaga impressão de que alguém — ou algo — o observava do outro lado.
"Você não está só."
As palavras retornaram como um consolo sombrio.
Ao sair do quarto, encontrou Kaelya no corredor, já preparada para mais um dia de treinamento. Ela olhou para ele, e por um breve instante, seu semblante suavizou.
— "Dormiu mal de novo?"
— "Não dormi." —James respondeu. — "Ou talvez… sonhei acordado."
Ela franziu o cenho, mas não insistiu. Juntos seguiram para o átrio inferior da Torre, onde Rhogar já os aguardava. A expressão do velho mentor estava mais dura do que de costume.
— "Há algo que precisa saber." — disse ele, direto. — "Durante a noite, um dos acólitos foi encontrado inconsciente. A aura ao redor do corpo... lembra a assinatura mágica que foi bloqueada em você no primeiro despertar."
James arregalou os olhos.
— "Você está dizendo que alguém me tentou incriminar?"
— "Ou testá-lo." — respondeu Rhogar. — "Há forças dentro da Torre que estão mais interessadas em ver você falhar do que aprender. E agora sabemos que você responde ao Coração."
Kaelya cruzou os braços.
— "Acha que foi coincidência um ataque que ocorreu na mesma ala que os aposentos de James?"
— "Não." — respondeu Rhogar. — "Mas também não foi obra de um amador. Quem o fez sabia que o selo de vigilância da torre não captura magia de origem ancestral."
James sentiu o estômago revirar. Não era mais apenas um problema de acessibilidade. Era caça. Era jogo político.
E então, a voz veio de novo.
"Eles têm medo de você. E com razão."
Ele fechou os olhos, tentando ignorar, mas Nyara sussurrou mais fundo:
"O Coração não é um dom. É uma maldição — e uma chave."
— "O que você quer de mim?" — James murmurou, baixo.
Rhogar e Kaelya se entreolharam.
— "O que foi?" — ela disse.
— "Nada... só um pensamento."
Mas não era só um pensamento. Naquela noite, James voltou ao espelho, decidiu confrontar a presença.
— "Nyara, o que é você?"
A névoa se formou novamente, e desta vez, os contornos de uma mulher começaram a surgir. Rosto velado, olhos escuros como poços infinitos. Sua voz ecoou por todo o quarto.
"Sou aquela que protege o que vocês esqueceram. E também… aquela que lembra o que jamais deveriam ter tocado."
James hesitou.
— "E por que você está me ajudando?"
"Porque você já morreu uma vez, James Hunter. E o mundo ainda não entendeu o que isso significa."
A imagem desapareceu. E, no corredor do lado de fora, um novo bilhete fora deixado, dobrado como uma ameaça silenciosa:
"Você não pertence à Torre. E logo, nem à capital."