Cherreads

Chapter 43 - A Sala Onde a Magia Cala

O som de seus passos ecoava como batidas secas sobre a pedra fria. A cada degrau descendo na espiral da Torre de Essência, o ar parecia mais denso, como se algo nele recusasse ser respirado.

James segurava uma lanterna encantada, mas a luz dela tremia como se hesitasse. Nem o Coração pulsava com força ali. A energia ao redor… silenciava.

No dia anterior, após o confronto com Thalren, Rhogar o alertara.

"Nem tudo que está escondido deve ser encontrado, Hunter."

Mas James sabia que, se quisesse entender o que havia dentro de si — e o que havia entre as mentiras daquela torre — teria que arriscar.

Chegou à porta esquecida do Subnível VII, uma arcada envolta por raízes petrificadas e inscrições que nenhuma Essência ousava tocar. Empurrou-a. Ela rangeu com um som que parecia uma advertência.

A sala além era circular, com paredes de pedra negra e espelhos quebrados espalhados pelo chão. Mas o mais estranho… era o silêncio.

Não o silêncio comum — mas a ausência completa de som mágico.

James deu um passo, e o Coração de Myrkanis quase parou. Nenhuma batida.

Era como estar morto por dentro.

Ao centro, havia um pedestal. Nele, uma bacia de prata líquida tremulava como se respirasse. E, ao seu redor, inscrições em uma língua esquecida.

Ele se aproximou, devagar.

Então, a voz veio — sussurrada, mas clara. Familiar e ao mesmo tempo errada.

"Você quer saber o que realmente é…"

James congelou. A voz era sua.

Mas... distorcida.

"Você não é James Hunter. Nunca foi. Você é o que sobrou depois da quebra."

Ele recuou, o suor gelado escorrendo por sua nuca.

"Isso é uma ilusão." — sussurrou para si mesmo. — "É só a Torre… tentando me quebrar."

A bacia espelhou algo. Não era seu reflexo — era um campo de batalha. Uma torre ruindo, uma princesa caída entre brasas… e uma criança, chorando enquanto chamas negras consumiam tudo ao redor.

"Você não está pronto."

A voz feminina que ecoou agora não era distorcida. Era… serena. Triste.

James se virou, e viu uma silhueta à beira das sombras.

Uma mulher. Alta, envolta por um manto feito de névoa. Olhos cobertos por uma venda de ouro velho. E um colar com o símbolo de Myrkanis, partido.

"Quem… quem é você?" — perguntou, ofegante.

Ela ergueu a mão, e a prata da bacia se acalmou.

"A primeira a carregar o Coração. E talvez… a última a cair por ele."

James sentiu a alma tremer.

"Isso é… uma memória?"

"Não. É um aviso." — disse ela, com suavidade. — "Aqueles que tocam o centro da verdade nesta torre não saem ilesos. Nem vivos. Mas você… é diferente."

"Diferente como?"

"Você ainda tem escolha."

A mulher desapareceu. A prata explodiu em vapor e a sala estremeceu.

James caiu de joelhos, com o peito arfando. O Coração voltou a pulsar — e desta vez, com força.

Quando retornou aos níveis superiores, Rhogar o esperava.

"Você desceu demais, cedo demais." — disse ele, sem precisar perguntar onde James estivera.

James apenas assentiu.

"Ela me mostrou algo."

"Mostrou… ou avisou?"

James não respondeu. Apenas encarou o céu de Myrkanis através das janelas altas da Torre.

E ali, na profundidade de seus olhos, algo começava a despertar.

Algo mais antigo que a Torre.

Mais antigo que o próprio nome Hunter.

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