As escadarias de pedra que levavam da cripta submersa até os corredores da Torre de Essência pareciam mais longas do que jamais haviam sido. Cada grau que James Hunter subia trazia não só o peso do cansaço, mas o de algo que crescia dentro dele — algo que sussurrava em uma língua sem forma, cujos ecos somente ele escutava.
Kaelya os esperava no pátio interno, ao lado de dois magos da guarda da torre. Ao ver o grupo emergir, seu olhar foi direto ao peito de James, onde o selo ainda brilhava fraco, como brasa prestes a reacender.
— "O que houve lá embaixo?" — ela perguntou, com a voz firme, mas também com um tremor escondido.
James hesitou. Sabia que haviam mais olhos do que os visíveis. Espiões e simpatizantes de casas rivais estavam sempre à espreita, mesmo dentro da torre.
— "Encontramos... uma entidade ancestral." — disse Rhogar, cortando o silêncio. — "E ela estava acordando."
Kaelya não fez mais perguntas. Seus olhos estavam nos de James, procurando algo. Uma dúvida? Um traço de fraqueza? Ou uma verdade que ela já temia?
— "Venham. Os Altos Arcanistas querem uma audiência."
Enquanto atravessavam os corredores espiralados da torre, James sentia os olhares lhe seguindo como facas cravadas em sua nuca. Ele percebeu — com mais clareza do que antes — que sua presença começava a incomodar.
E não era só pelo Coração.
Era pelo nome. Hunter.
Na Câmara de Essência, cinco tronos de obsidiana abrigavam os Altos Arcanistas. Três estavam ocupados. No centro, Lady Thalindra, a mais antiga e respeitada do círculo, observava com olhos opacos como vidro negro.
— "O selo que carrega," disse ela, sem preâmbulo, "pertence a um artefato que deveria ter sido destruído após a Guerra das Sete Ruínas."
James ficou em silêncio.
— "Por que ele está ativo?" — perguntou o segundo Arcanista, Lorde Menver.
James finalmente falou:
— "Porque não me deixou escolher."
Thalindra uma sobrancelha. Menver transmitiu com desdém.
— "Perigosos são aqueles que se dizem escolhidos por algo que não compreendem."
Antes que a tensão explodisse, a terceira voz — uma jovem com olhos pálidos — se ergueu do trono mais distante.
— "E mais perigosos ainda são aqueles que se negam a ouvir os sussurros antigos. O selo respondeu a ele. Isso não pode ser ignorado."
James reconheceu-a. Seris Altheris. A princesa oculta. Aquela cuja presença era mais rumor que certeza.
Thalindra acenou lentamente.
— "Então ele permanece. Por hora. Mas ainda será observado."
Após a audiência, James foi conduzido de volta aos seus aposentos. Mas não descansou. Na calada da noite, as paredes suavemente respiram. E do espelho sem reflexo em seu quarto, uma melodia tênue se formava — uma canção feita de vozes sobrepostas.
— "Você não está só."
Ele se aproximou. No espelho, sua imagem não refletia. Apenas sombras e uma mão. Estendida na névoa.
James tocou o vidro.
— "Quem é você?"
A resposta foi apenas um nome.
"Nyara."
E então, silêncio.