O pátio de treinamento da Torre de Essência estava vazio naquela manhã, exceto por James e Rhogar. A névoa ainda não havia se dissipado, e o chão de pedra estava úmido, escorregadio. Mesmo assim, não houve adiamento. O guerreiro dracônico o havia alertado:
"O poder bruto é só um dos pilares. Você precisa de domínio. E disciplina."
James já não era o mesmo jovem que chegara à torre — cambaleante, humilhado. Mas agora, cada passo que dava trazia um peso novo: o da dúvida sobre quem era. A memória da mulher na sala sem som ainda assombrava seus pensamentos.
Rhogar, de pé com os braços cruzados, lançou lhe um olhar severo.
"Hoje, vamos trabalhar mais que sua Essência. Vamos ver o que seu corpo aguenta… quando o orgulho se desfaz."
James concordou. Suava antes mesmo de começar.
"Você viu coisas no andar proibido." — Rhogar comentou, enquanto caminhava em círculos ao redor dele. "O que você carrega no peito não é só magia, é memória… é maldição. Vai ter que aprender a suportar mais do que ataques físicos. Vai ter que aguentar o que o mundo dirá que você é — e o que ele tentará te obrigar a esquecer."
Sem aviso, Rhogar avançou. James sofreu o braço, mas a pancada o atingiu no flanco. Rolou pelo chão, ofegante.
"Você está distraído."
"Eu…" — James se declarou, rangendo os dentes. — "Estou tentando entender—"
"Não tente entender agora." — cortou Rhogar, com voz ríspida. "Agora, lute."
James avançou. Seus movimentos eram rápidos, mas desequilibrados. Usou vento para impulsionar um chute giratório, que Rhogar bloqueou com o antebraço, como se não fosse nada. Em seguida, um soco no estômago o deixou sem ar.
"Você confia demais na magia." - rosnou Rhogar. — "Mas se ela falhar, o que resta?"
James caiu de joelhos, cuspindo sangue. Mas seus olhos, inflamados, ergueram-se com determinação.
"Resta… o que eu escolho ser."
Rhogar parou. Um pequeno sorriso curvou os cantos de seus lábios.
"Essa é uma boa resposta."
Ele estalou os dedos, e as pedras ao redor se ergueram em formações espinhosas.
"Agora, escolha lutar."
James se ergueu com dificuldade. Sentia cada músculo gritar, mas algo dentro dele também gritava — e era mais alto.
Com um movimento fluido, ele concentrou a Essência nas pernas e se lançou contra as formações. Não as destruiu. Dançou entre elas. Esquivando, desviando, sentindo o fluxo do vento ao seu redor.
O Coração de Myrkanis pulsava em compasso. Controlado. Vivo.
Quando finalmente parou, com as mãos seguidas, Rhogar caminhou até ele, desta vez sem intenção de atacar.
"Você começou a ouvir."
"A ouvir o quê?"
"A si mesmo." — disse Rhogar, apontando para o peito de James. — "E ao que habita dentro disso aí."
James fechou os olhos. Pela primeira vez desde o teste da mente… sentia controle. Ainda pequeno, frágil — mas real.
Rhogar virou-se para partir.
"Amanhã, você vai lutar contra alguém que quer te destruir."
James franziu o cenho.
"Você?"
Rhogar riu, segundo.
"Não. Alguém que já tentou antes. E falhou."
E deixou James sozinho com o eco daquelas palavras.
E com a certeza de que o treinamento estava apenas começando.