O céu sobre a Torre de Essência estava encoberto por nuvens negras que giravam como um redemoinho silencioso. Uma tempestade mágica se acumulava — não nos céus, mas dentro de James.
Após dias intensos de treinamento sob o comando de Rhogar, seu corpo já não doía mais como antes. Mas sua mente… sua mente começou a fraturar sob o peso do que vinha despertando.
Naquela manhã, Rhogar o levou ao Anel de Confronto — um espaço circular onde aprendizes eram testados não por instrutores, mas entre si. O ar ali vibrava com rivalidade e desconfiança.
— "Hoje, você enfrentará um igual" — anunciou o mestre. — "Ou o que você pensa que seja um."
Do outro lado do anel, surgiu um jovem de cabelos cor de areia e olhos cinzentos. Sua presença era como uma lâmina afiada: sutil, elegante, mortal.
—Este é Thalren Veynar. Terceiro entre os sete escudeiros da Torre. Um prodígio… e um problema — disse Rhogar, baixo.
Thalren caminhou até o centro com um sorriso de superioridade. Seus olhos analisaram James com desdém.
— "Então é você o novo animalzinho de estimação do velho Rhogar." — Sua voz tinha o veneno de quem estava acostumado a destruir com palavras antes da magia. — "Espero que tenha aprendido a sangrar com elegância."
James apenas firmou os pés. O Coração em seu peito palpitava, inquieto. Sentia algo estranho em Thalren — não apenas arrogância, mas algo escondido… distorcido.
Quando o duelo começou, o chão explodiu sob os pés de James. Lâminas de pedra, chicotes de vento, estilhaços de gelo — Thalren era veloz, técnico, quase cruel.
James recuou, desviando o quanto pôde. Cada defesa era uma dança de instinto, um equilíbrio entre controlar o Coração e não se deixar dominar por ele.
Thalren lançou uma esfera flamejante direto ao peito de James — e por um instante, tudo pareceu desacelerar.
O Coração de Myrkanis pulsou, mas… algo o conteve. Não explodiu. Não rugiu.
Foi James quem canalizou a energia, desviando o ataque com um gesto preciso. Uma parede de ar denso interceptou a esfera. O impacto fez o anel vibrar.
— "Interessante…" — murmurou Thalren, arqueando uma sobrancelha. — "Então é verdade. Você carrega algo antigo."
James avançou, desta vez por conta própria. Cada passo era um chamado à Essência. O fogo envolveu seus punhos, mas não era apenas chama — era memória. Dor. Fúria.
No momento do golpe final, seus olhos cruzaram com os de Thalren… e ele viu.
Por um breve segundo, vislumbres. Uma memória que não era sua: Rhogar, jovem, diante de um trono em chamas. Gritos. Traição. Sangue derramado em nome de uma promessa quebrada.
James hesitou.
O soco parou a centímetros do rosto de Thalren.
— "Você viu… não viu?" — sussurrou o adversário. Pela primeira vez, sem arrogância.
Rhogar interveio antes que pudesse continuar.
— "Chega. Ambos provaram o que precisaram" — disse, sério, mas não severo.
Naquela noite, James foi até o mestre.
— "O que aconteceu com você… naquela visão?" — Disse.
Rhogar apenas olhou para o horizonte, a barba tremendo sob o vento.
— "Alguns ecos são fantasmas. Outros… são avisos."
E o velho se afastou, como se fugir da resposta fosse a única defesa que ainda lhe restava.