A figura caminhava sem pressa pelos corredores alagados, e a luz mágica da tocha de James parecia recuar de sua presença, como se até o fogo temesse conhecer seu rosto.
— "Você não perguntou meu nome."
James manteve-se em silêncio, os olhos atentos a cada movimento.
— "Porque sabe que nomes têm poder. E saber o meu... lhe traria perguntas que ainda não está pronto para fazer."
A voz saía distorcida pela máscara: grave, mas com ecos de outra tonalidade por trás — como se duas pessoas falassem ao mesmo tempo. Eles chegaram a uma antecâmara adornada por pilares rachados e espelhos quebrados. Cada superfície refletia coisas que não estavam ali.
James olhou para um deles e viu uma versão de si mesmo, ajoelhado, coberto de sangue, com o olhar perdido.
— "O que é isso?"
— "Memórias fragmentadas dos que vieram antes… ou talvez, dos que ainda virão." — disse a figura, parando diante de um altar coberto por símbolos ancestrais. — "Aqui é onde os restos do Círculo foram sepultados. Não os corpos, James. Mas os legados. Os juramentos quebrados. As verdades que ninguém mais ousa recordar."
James se aproximou, hesitante.
— "Você fazia parte deles?"
A máscara virou-se lentamente. A face do choro brilhou com um leve tom azul, como se absorvesse a dor presente na pergunta.
— "Fui criado por eles. Moldado nas brasas do que restou. Sobrevivi quando o trono ordenou nossa extinção. Quando os Vellmont e seus aliados chamaram nossa busca por equilíbrio de 'heresia'."
James estreitou os olhos.
— "Equilíbrio?"
A figura estendeu a mão e o altar se partiu ao meio, revelando um pergaminho selado por um anel de obsidiana. O símbolo? Um círculo dividido por uma chama — idêntico à forma que o Coração de Myrkanis assumira quando James o despertou.
— "O Círculo não buscava poder. Buscava conter o que viria. Você é prova de que falhamos… ou de que talvez ainda haja esperança."
James engoliu em seco.
— "E o que quer de mim?"
— "Nada, por enquanto. Mas outros virão. Kaelya pode protegê-lo por um tempo… Rhogar pode prepará-lo… Mas todos ignoram uma coisa: Myrkanis não está morto. Apenas adormecido."
A figura se aproximou, a máscara a centímetros do rosto de James.
— "Quando ele despertar… o Coração irá escolher."
Com isso, a figura recuou, desaparecendo entre as colunas.
James ficou ali, sozinho, com o pergaminho selado e a certeza de que o caminho que escolheu era mais profundo — e perigoso — do que jamais imaginara.
Nas criptas veladas da Torre de Essência, as máscaras voltavam a sussurrar.
E agora… sussurravam para ele.