A chuva caiu fina sobre as torres de Vandhros, arrastando as sombras noite adentro. Dentro da Torre de Essência, enquanto os aprendizes descansavam e os mestres se retiravam para seus aposentos encantados, James descia.
Passo após passo, em silêncio absoluto, guiado apenas por um mapa rudimentar encontrado em um tomo esquecido na ala de história mágica. A entrada para as criptas não constava nos registros comuns. Era um vão oculto atrás de uma tapeçaria antiga, marcado pelo símbolo apagado de uma serpente entre um círculo — um brasão que ninguém mais ousava mencionar.
O símbolo do Círculo Proibido.
A passagem se revelou como uma boca escancarada de pedra, e o ar ali dentro era frio como sopro de um túmulo. A cada degrau vencido, James sentia o Coração de Myrkanis vibrar com mais intensidade, como se fosse reconhecendo o lugar.
As criptas veladas não eram apenas túmulos de antigos magos. Eram câmaras de esquecimento — onde memórias perigosas, artistas proibidos e nomes apagados da história foram enterrados para sempre.
— "Se isso é loucura, ao menos é uma loucura coerente…" — murmurou James para si mesmo, tocando a parede coberta de runas apagadas.
Então ele ouviu.
Uma voz. Sussurrante. Antiga.
— "Por que você carrega o que não pode conter… herdeiro do fogo oculto?"
James girou sobre os calcanhares, preparando uma conjuração defensiva — mas não havia ninguém. Apenas uma sombra que se movia contra a lógica, contornando a luz da tocha sem obedecer às suas leis.
Ele seguiu o som. Cada passo dado o levava mais fundo, até encontrar uma câmara circular, parcialmente submersa. As águas ali não refletiram imagem alguma — apenas memórias distorcidas, como se o próprio tempo tivesse sido diluído.
No centro da sala, repousava um pedestal com um grimório envolto por correntes enferrujadas, marcado com o mesmo símbolo do Círculo. As correntes tremiam com sua aproximação.
Quando estendeu a mão, uma explosão de visões o atingiu como um raio: uma torre desmoronando sobre magos enlouquecidos, uma criança chorando diante de um círculo de sangue, e um símbolo tatuado no braço de um homem — o mesmo que James vira em seu segundo teste.
Ele caiu de joelhos, arfando.
— "Você não deveria estar aqui."
A voz era nova. Real. James ergueu os olhos e viu uma figura envolta por um manto escuro, o rosto oculto por uma máscara metálica dividida em duas faces: uma de choro, outra de riso.
— "Quem é você?"
A figura apenas se virou, como se convidasse James a seguir.
— "Você busca respostas. Mas elas cobram um preço."
James hesitou. Sabia que ultrapassava um limite invisível — um que, uma vez transposto, não poderia ser desfeito.
Mas o Coração queimava. Pulsava. Clamava.
Ele se pôs de pé e seguiu a figura mascarada… em direção ao que quer que estivesse escondido sob as raízes da Torre de Essência.