Com o cartão em mãos e um novo nome a me guiar, a fome ainda era a prioridade. Encontrar algo para comer naqueles primeiros minutos foi uma tarefa mais fácil do que imaginei, dado o cenário. Em uma rua movimentada, onde um mercador Yo-kai vendia o que parecia ser takoyaki ao lado de uma barraca de shawarma gerida por um alienígena de quatro braços, consegui um bolinho de arroz com recheio de peixe que, por algum milagre, era delicioso. A moeda local? Uma espécie de chip hexagonal que o cartão replicava perfeitamente.
Com o estômago satisfeito, a próxima etapa era conseguir um lugar para ficar. O Mestre da Morfagem havia prometido um "centro de comando", mas não especificou como ele apareceria. Seria uma entrega? Um download? Decidi que a melhor forma de invocá-lo seria pensar nele, ativamente. E, claro, procurar um local adequado para ele se materializar.
Comecei a andar pelas ruas, absorvendo a loucura à minha volta. Vi crianças com Quirks de Boku no Hero Academia brincando com Pokémons selvagens. Um Anjo Caído discutia fervorosamente com um demônio em um café enquanto um herói em traje de látex passava correndo, ignorando a cena. A coexistência era caótica, mas surpreendentemente funcional em alguns níveis.
Eu precisava de algo discreto, mas estratégico. Evitar o centro da metrópole caótica era fundamental, ao menos por enquanto. Meus olhos se fixaram em uma área mais antiga da cidade, onde os edifícios estilo Shogun se tornavam mais densos e a presença tecnológica diminuía, dando lugar a templos e dojôs. Lá, um pouco afastado da agitação principal, avistei um terreno baldio adjacente a um velho templo em ruínas, escondido por uma densa vegetação. Perfeito.
Concentrei-me. Pensei no Master Morpher, na Morphin Grid, e, com toda a força da minha recém-adquirida determinação, imaginei o centro de comando surgindo ali. Uma leve tontura me atingiu, e o ar ao meu redor pareceu vibrar. Um suave zumbido começou a preencher o espaço, crescendo em intensidade. A vegetação se afastou como se empurrada por uma força invisível, e do nada, como se tivesse sempre estado ali, um edifício de aparência discreta, mas robusta, começou a se materializar.
Não era um palácio futurista como o Centro de Comando dos Mighty Morphin Power Rangers, nem uma base militar como a dos Lightspeed Rescue. Era mais parecido com um dojo fortificado, misturando elementos de arquitetura japonesa tradicional com painéis solares modernos discretamente integrados no telhado e janelas de vidro escuro. Uma fachada simples, de madeira escura e pedra, camuflada pelas árvores, mas que exalava uma sensação de segurança. A porta principal, feita de metal reforçado disfarçado de madeira, deslizou silenciosamente quando me aproximei.
Por dentro, era surpreendentemente espaçoso e futurista, um contraste com o exterior. Uma sala principal circular com consoles de alta tecnologia que exibiam mapas tridimensionais da cidade, linhas de energia pulsantes e dados ininteligíveis. Paredes de monitores gigantes mostravam notícias de diversos canais, em múltiplos idiomas, sobre ataques de vilões, aparições de criaturas e relatórios de "fenômenos sobrenaturais". Havia uma área de treinamento, um pequeno laboratório e, para minha surpresa, uma cozinha equipada e até mesmo um quarto confortável.
"Okay, Mestre, você não brinca em serviço," murmurei, impressionado. Este era um verdadeiro centro de operações. E agora, com um lugar seguro e dinheiro, a próxima etapa era o conhecimento.
A interface do console principal era intuitiva, parecendo se adaptar à minha compreensão. Com alguns toques, comecei a varrer as redes de comunicação, os bancos de dados acessíveis, as notícias. A primeira avalanche de informações foi esmagadora.
Descobri que a coexistência de raças (humanos, anjos, demônios, yokai, etc.) era um resultado de um evento cataclísmico conhecido como a "Convergência", que havia fundido vários planos de existência há algumas décadas. Isso explicava os anjos e demônios convivendo — com suas próprias facções e conflitos velhos, claro —, e a existência dos Yo-kai.
Os "heróis" eram uma mistura. Havia heróis oficiais licenciados, com Quirks, gerenciados por uma espécie de agência global, claramente influenciados pelo universo de Boku no Hero. Mas também havia vigilantes e outros indivíduos poderosos, alguns que operavam com regras próprias, lembrando figuras da DC ou Marvel que não se encaixavam em estruturas rígidas. Os "vilões" eram igualmente diversos: organizações criminosas com superpoderes, grupos de demônios renegados, ou até mesmo Pokémon lendários enfurecidos.
Os Pokémons... Ah, os Pokémons. Eles existiam livremente, alguns selvagens, outros parceiros de humanos, mas também havia uma "Liga Pokémon" global, embora seus torneios e sistemas parecessem um pouco diferentes do que eu conhecia, mais integrados à vida cotidiana das metrópoles.
As divisões geográficas eram um emaranhado de nomes familiares e novos. Continentes inteiros eram dominados por uma cultura específica: havia uma vasta "Nação Ninja" que parecia ser a essência do mundo de Naruto, um "Reino Asgardiano" flutuante que eu nem queria pensar em visitar ainda, e uma "Megacidade Prime" que era um caldeirão de tecnologia e magia, onde heróis da era dourada poderiam se sentir em casa.
Eu estava em "Neo-Edo", a metrópole onde o passado feudal e o futuro cibernético se abraçavam, um dos vários hubs de poder nesta amálgama.
Horas se passaram enquanto eu navegava por este turbilhão de dados. O Mestre da Morfagem não me deu um manual, mas ele me deu a biblioteca. A Morphin Grid aqui era conhecida, mas era mais uma lenda antiga, uma fonte de poder mística da qual poucos sabiam a verdadeira extensão ou como acessá-la. Aparentemente, os Rangers eram figuras lendárias de um passado distante, contos de fadas para a maioria, se é que eram lembrados.
Minhas duas formas, SPD Blue e Lightspeed Rescue Red, eram poderosas em seus respectivos universos. Mas neste, onde um Pikachu podia ter um poder de batalha comparável a um herói de Classe S, e um demônio podia conjurar um meteoro, eu não seria a força mais óbvia. E isso era ótimo. O fato de que poucos soubessem da verdadeira extensão dos poderes Ranger, ou sequer acreditassem neles, significava que eu seria amplamente subestimado. Ninguém esperaria um guerreiro lendário emergindo do nada com cores vibrantes e Zords gigantes. Essa falta de reconhecimento era a minha maior vantagem, uma carta na manga para surpreender qualquer um que cruzasse meu caminho.
Um mapa da cidade no console piscava, indicando focos de conflito. Uma área em particular, mais próxima da minha localização, mostrava um aumento na atividade de "criaturas das sombras" – possivelmente Yo-kai malignos ou demônios menores – e a presença de heróis e ninjas tentando contê-las.
"Hora de testar essas duas formas, Mestre," murmurei para o ar, meus dedos já traçando o ícone do Master Morpher no console. A informação era vital, sim. Mas a ação... a ação era o que me faria entender o meu lugar neste mundo caótico. E, quem sabe, me faria sentir um pouco menos perdido, e muito mais subestimado, para minha própria vantagem.