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Chapter 60 - Cicatrizes do Que Está por Vir

O salão cerimonial da Torre de Essência estava lotado, mas envolto em um silêncio sufocante. Mestres, iniciados e emissários de casas nobres se reuniram para presenciar o julgamento do jovem que havia desafiado os espelhos… e revelado demais.

James permanecia de pé no centro, os braços cruzados atrás do corpo, a expressão firme. Seu corpo ainda sentia o peso do último teste, mas seu olhar não vacilava. À sua frente, o Círculo dos Quatro — os altos representantes da Torre — o observavam com olhos frios.

Kaelya estava entre os presentes, posicionada estrategicamente entre os espectadores, o semblante contido. Rhogar, por sua vez, recusara-se a participar da cerimônia pública. "Justiça manipulada não me interessa." — dissera ele naquela manhã.

Uma das figuras do Círculo, o Mestre Elrian, ergueu-se.

"James Hunter. Apesar de ter completado o Teste do Espírito, você provocou a quebra de estruturas mágicas protegidas e expôs membros seniores da Torre ao ridículo. Deseja justificar sua conduta?"

James respirou fundo. Cada palavra precisava ser medida.

"Revelei o que estava escondido. Se houve ridículo, ele pertence aos que escolheram agir nas sombras."

Um burburinho percorreu o salão. Elrian manteve a compostura, mas sua mandíbula se apertou por um segundo.

"Você foi alertado sobre os limites. O Olho Interior não foi concedido para destruir tradições."

"O Olho não destrói. Ele revela." — rebateu James. — "E o que foi revelado não é culpa minha."

Antes que Elrian respondesse, uma nova voz ecoou entre os pilares — grave, pausada, vestida de autoridade.

"Basta."

Todos se voltaram. Do fundo do salão, surgiu um homem de vestes cinzentas com brocados dourados: Lorde Aeren Altheris, tio da princesa Seris e membro silencioso do alto conselho arcano.

"Este julgamento não é sobre um aprendiz. É sobre o medo que têm do que ele pode se tornar. E se a Torre é tão frágil que um jovem pode abalar seus pilares, talvez devamos repensar quem ocupa esses pilares."

Elrian conteve a resposta. O silêncio que se seguiu foi um veredicto em si.

James não foi absolvido. Mas também não foi condenado.

Recebeu uma advertência formal e foi liberado da cerimônia com o título de Vigilante Provisório da Torre — uma forma de vigiá-lo sob o pretexto de reconhecimento.

Naquela noite, de volta aos andares inferiores, Kaelya o encontrou observando a lua através de uma janela encantada.

"Eles não vão parar, James." — disse ela. — "Agora que você os enfrentou de frente, as investidas serão mais sutis… e mais perigosas."

"Que venham." — respondeu ele, sem desviar os olhos do céu. — "Cada cicatriz que me derem será uma armadura. E eu ainda não terminei."

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