A arena da Torre de Essência parecia diferente naquela manhã. O chão de pedra foi substituído por um campo de areia encantada, que se move lentamente como se respirasse. No alto, espelhos flutuavam, projetando imagens distorcidas — memórias quebradas, reflexos incompletos de quem quer que entrasse ali.
James parou diante do portão de entrada. Rhogar o acompanhava, os braços cruzados, semblante pesado.
"Este teste… não é como os outros." — murmurou o mentor. — "Ele não foi feito para avaliar. Foi moldado para destruir."
James não disse como ele sabia. O Olho Interior pulsava em seu peito, quente como brasa viva. E naquele calor, ele via as fissuras do cenário. Os feitiços alterados. As intenções ocultas dos mestres acima.
"Eles querem que eu fracasse."
Rhogar concordou. "Então vença de um jeito que eles não preveem."
Uma trombeta soou.
James entrou.
O calor o envolveu de imediato. A areia viva tentou engolir seus pés, mas ele se moveu rápido, deixando pegadas que logo desapareciam. À frente, uma figura surgiu — alta, encapuzada, o rosto oculto. Empunhava uma lâmina curva feita de luz líquida.
"Um construto?" — pensou James.
"Não." — respondeu o Olho Interior, através de um instinto. — "Isto é um espelho."
O reflexo avançou.
Cada golpe trocado era como enfrentar uma parte de si: dúvidas, medos, memórias dolorosas. O oponente repetia seus movimentos, mas com mais crueldade, mais precisão. Era como se os próprios erros do passado ganhassem forma e tentassem abatê-lo.
"Você não é digno."
"Você falhou com Eleanor."
"Você destruiu o que amava."
James cambaleou, os olhos ardendo. As palavras cortavam mais que as lâminas.
Mas então ele parou de lutar com a espada... e abriu o Olho.
O reflexo congelou.
Uma arena inteira oscilante. Os espelhos no alto tremeram, rachaduras se formaram em suas superfícies. E pela primeira vez, James enxercou o que estava por trás da ilusão: três mestres da torre canalizavam feitiços escondidos, manipulando o fluxo da batalha. Um deles... era o mesmo que o havia elogiado nos primeiros testes.
"Traidor."
James ergueu a mão. A luz do Olho projetou um círculo de energia ao redor do espelho principal. E dentro dele, o reflexo mudou: agora não mostrava James... mas o conspirador oculto, murmurando encantamentos com os olhos arregalados.
Uma plateia silenciou. Os mestres tentaram dispersar a ilusão, mas era tarde demais. O Olho já havia revelado.
O reflexo caiu. A arena se dissolveu.
James estava de pé, suando, ofegante, mas intacto.
Os observadores murmuravam. Alguns em choque. Outros em reverência.
Kaelya apareceu entre a multidão. Aproximou-se e disse em voz baixa:
"Você os desmascarou. Mas agora... eles não vão mais esperar."
James olhou para os céus da cúpula, onde os espelhos quebrados ainda flutuavam, projetando estilhaços de um mundo que tentava esconder a verdade.
"Então deixem que venham." — respondeu ele, os olhos ardendo com o poder do Olho.
"Agora, eu vejo."