O vento da madrugada sussurrava entre as torres da cidadela mágica, carregando um frio cortante que parecia carregar vozes esquecidas. James seguia Kaelya em silêncio, descendo pelas passagens secretas que levavam além dos limites da Torre de Essência. Seus passos ecoavam em corredores de pedra úmida, onde a luz das tochas mal tocava os cantos.
"Você está certo de que deseja seguir?" — perguntou Kaelya, a voz baixa mas firme. — "O que está prestes a ver não é uma resposta. É uma pergunta que te perseguirá."
"Eu preciso entender. O que sou… de onde vem esse poder. E por que tantos temem o que ainda não compreendo."
Kaelya assentiu e se calou.
Minutos depois, chegaram a uma câmara selada, oculta sob camadas de magia ancestral. Ela tocou o centro de um pedestal rúnico e murmurou um encantamento. As runas brilharam em vermelho profundo, e uma parede de pedra girou com o som de séculos se abrindo.
Dentro, o ar era espesso como poeira encantada. No centro da sala, repousava um altar baixo de obsidiana, coberto por inscrições em uma língua extinta — a língua do Círculo Proibido.
James se aproximou e esticou a mão, mas recuou ao sentir o calor que pulsava da superfície negra.
"Este lugar… respira."
"Aqui repousa o Fragmento de Sangue." — disse Kaelya. — "Parte do selo que manteve o Círculo afastado dos reinos mortais. E onde, segundo os registros antigos, o primeiro portador do Coração selou a própria essência."
James ajoelhou-se diante do altar. As inscrições começaram a brilhar. Imagens invadiram sua mente — relances de um guerreiro de olhos dourados, enfrentando monstros envoltos em sombras líquidas. Em suas costas, uma marca idêntica à que James carregava no peito.
"Ele era como eu… ou eu sou como ele?"
A visão se fragmentou. Em seu lugar, surgiram palavras sussurradas em sua mente:
"Quando a chama se tornar sombra, e o sangue clamar em silêncio, o Olho verá aquilo que os deuses temem."
James abriu os olhos ofegante. Seu nariz sangrava, e seu corpo tremia.
"O que… foi isso?"
Kaelya estava pálida.
"Você ouviu as palavras… do Primeiro. Isso não deveria ser possível sem a ascensão completa do Olho Interior."
James se levantou devagar. Algo dentro dele havia se movido, como uma engrenagem esquecida voltando a girar.
"Então estou mais perto do que pensavam."
"Ou mais perigoso do que imaginávamos." — murmurou Kaelya. — "O que quer que esteja despertando… está te chamando para algo maior. Mas há olhos observando. E não são apenas os da Torre."
Enquanto saíam da câmara, as luzes se apagaram atrás deles, como se o Fragmento reconhecesse que havia cumprido seu papel.
E em algum lugar distante, na fortaleza da Ordem Silenciosa, um velho mago de olhos cinzentos despertava de um sonho perturbador, sussurrando:
"Ele viu."