As chamas da tocha tremulavam, mas não pelo vento.
James caminhava lentamente pelos corredores da Torre de Essência, cada passo ecoando com um peso diferente. O Olho Interior, recém-desperto, pulsava em silêncio sob sua pele, uma segunda consciência à espreita por trás dos sentidos comuns. Cada pessoa que cruzava seu caminho carregava uma sombra atrás dos olhos — intenções, medos, desejos ocultos. E agora ele via tudo.
"O mundo parece mais nu agora." — pensou, enquanto cruzava o arco para a biblioteca inferior.
Rhogar o aguardava entre os corredores de pedra e pergaminhos antigos. Quando viu os olhos de James, ergueu uma sobrancelha, mas nada disse de imediato.
"Está ativo." — disse o mentor, sem rodeios. — "E rápido. Talvez rápido demais."
"Não foi uma escolha." — respondeu James, com a voz mais firme do que esperava. — "A chave estava lá. Ela me chamou."
Rhogar assentiu. "O Olho Interior é mais que apenas visão. Ele é percepção sobre a verdade, inclusive a sua. Se você não souber lidar com o que vê, pode se perder."
James olhou para um grupo de aprendizes ao longe. Um deles sorriu — mas por trás do sorriso, o Olho via o desprezo escondido, a inveja mal disfarçada.
"E se eu já estiver perdido?"
Rhogar pousou uma mão em seu ombro, pesada como rocha. "Então encontre um motivo para voltar. Antes que eles te encontrem primeiro."
Naquela noite, Kaelya o chamou discretamente para uma reunião. A sala estava protegida por runas de silêncio, mas nem isso deteria os olhos recém-abertos de James. Sentados ao redor da mesa estavam três outros aprendizes — companheiros de torre — e uma mulher encapuzada que não reconheceu de imediato.
"Conselho dos Dissidentes." — murmurou Kaelya, como se estivesse a anunciar uma lenda proibida.
James se sentou em silêncio, apenas observando.
A mulher tirou o capuz. Seus olhos eram vermelhos como rubis gastos, e sua pele marcada por uma cicatriz profunda.
"Meu nome é Serya. Ex-integrante da Ordem Silenciosa. E estou aqui porque você acaba de se tornar o inimigo mais importante deles."
James não respondeu de imediato. Mas viu — no rosto de Serya, não havia mentira. Apenas cansaço. Culpa. E algo mais... como uma esperança contida.
"Por que eu?" — perguntou, direto.
"Porque o Olho desperto vê mais do que eles desejam esconder. E se há algo que ameaça mais do que o poder bruto... é a clareza."
Kaelya se aproximou.
"Eles não vão parar. O próximo teste será manipulado. E há um traidor entre os instrutores."
James respirou fundo. O Olho girou, silencioso.
"Eu vou descobrir quem é." — disse, com a voz cortante.
Serya assentiu. "E quando descobrir, nos chame. O Conselho pode ser pequeno... mas não está sozinho."
Ao sair, James parou diante de um espelho antigo. Seus olhos, agora duplos, o encararam com intensidade.
"Se a verdade é uma lâmina... então chegou a hora de usá-la."