A energia do portal pulsava como um coração de luz viva. James sentia a força bruta atravessar cada fibra de seu ser, reconfigurando não apenas sua essência, mas sua própria compreensão de realidade. O que antes era nebuloso agora se delineava com clareza quase dolorosa. Não era apenas poder... era verdade.
Ele atravessou.
O outro lado não era um lugar. Era uma consciência.
Ele flutuava em um vazio repleto de formas que só podiam ser percebidas com a alma. Fragmentos de memórias alheias, emoções cruas, ecos de vozes nunca ouvidas — tudo ao mesmo tempo. E no centro, uma estrutura: uma chave flutuante forjada em cristal negro, girando lentamente sobre si mesma, como se aguardasse por ele há séculos.
"O que é isso?" — murmurou James, embora soubesse que as palavras eram inúteis ali.
Uma voz — ou talvez a própria Essência — respondeu, sussurrando sem som: "A Chave para o que foi perdido. O que dorme em ti. O que foi selado."
James estendeu a mão.
Assim que tocou a chave, tudo se rompeu.
Um feixe de luz perfurou sua mente, abrindo-se e cicatrizando-as ao mesmo tempo. Ele caiu de joelhos — embora não houvesse chão — enquanto o Olho Interior despertava. Era como ver o mundo virar-se pelo avesso: cada linha mágica, cada fio de emoção, cada intenção oculta tornava-se visível. Era lindo. Assustador. Avassalador.
De volta à torre, os cristais da câmara explodiram em luz. Rhogar observava da varanda do salão superior, o olhar grave.
"Está se abrindo... muito antes do que previmos." — murmurou para si mesmo.
Na sala de conselheiros, uma onda de Essência varreu os corredores, atingindo até mesmo os membros da Ordem Silenciosa. Um deles abriu o punho, irritado.
"O Coração e o Olho... não deveriam se unir."
De volta à câmara, James se erguia, a respiração irregular, os olhos dilatados. Mas havia algo novo neles — uma segunda pupila, etérea, girando como uma espiral viva no centro de seus olhos naturais. O Olho Interior havia se manifestado.
Kaelya chegou à sala segundos depois, em alerta, e subitamente ficou paralisada ao vê-lo.
"James... o que você...?"
"Eu vi." — disse ele antes que ela completasse sua expressão, com a voz rouca, mas firme. — "Vi o que está por trás dos sorrisos, das palavras. Vi o medo que os move... e a esperança que ainda resiste."
"Você despertou..." — murmurou ela, boquiaberta. — "Mas isso muda tudo. Eles virão atrás de você com mais força agora."
James concordou. "Que venham. Pois agora... eu enxergo."