O frio foi a primeira coisa que James sentiu. Um frio sem origem, que vinha de dentro e de fora, como se seu próprio corpo recusasse seguir adiante. O ar da câmara parecia congelado no tempo. As paredes eram lisas, sem runas, sem história — apenas uma superfície cinzenta, úmida, que absorvia a luz e abafava o som.
Ele avançou, cauteloso. Cada passo ecoava em dobro, como se alguém caminhasse junto. Não havia mobília, nem portas além da que usar para entrar. E ainda assim, sentia que estava sendo observado.
O chão tremeu.
Do centro da sala, algo se ergueu. Não era uma criatura. Uma figura. Sua altura, seu porte, seus olhos.
Era James.
Mas não o James presente. Era o garoto de olhos esperançoso de antes da queda, antes da traição, antes da dor. Aquele que ainda acreditava que o amor bastava, que os sonhos eram suficientes para vencer o mundo.
"Você é fraco." — disse a imagem, sem mexer os lábios, mas com a voz ecoando diretamente dentro da mente de James. — "Você deixou que nos quebrassem."
James cerrou os punhos. "Eu sobrevivi. Isso é força."
"Sobreviver não é vencer." — a imagem se mudou, os olhos cintilando com desprezo. — "Você abandonou quem éramos. Tornou-se frio, amargo... e pior, começou a gostar disso."
James tentou se mover, mas o chão se fundiu com seus pés. A figura ergueu os braços, e imagens começaram a surgir ao seu redor: a mão de Eleanor se afastando, o sangue no chão da primeira batalha, os olhares de desprezo em Vandhros. E, por fim, o rosto sem vida de seu pai, envolto em chamas.
"Você mente para si mesmo." - continuou a figura. — "Finge que busca redenção, mas o que quer mesmo é vingança. Vingança contra ela. Contra o mundo. Contra o próprio destino."
"Não!" — referiu James. — "Eu... eu quero proteger. Eu quero impedir que outros sofram como eu sofri!"
"Mesmo que para isso tenha que se perder completamente?"
James hesitou. A figura sorriu — não com malícia, mas com tristeza.
"Você só poderá atravessar o espelho... quando aceitar que não há volta. Que a dor é parte de você. E que ela não precisa ser sua prisão, mas sua arma."
A figura se dissipou em chamas azuladas, que flutuaram e se fundiram ao peito de James. Uma sala tremeu. O chão se dissolveu, e em seu lugar, surgiu um novo reflexo: o espelho vivo da câmara anterior.
Desta vez, James via seu rosto.
E ele não recuava.
Um portal se abriu no centro da sala. Luz dourada jorrava dele, vibrante e brutal. A essência se derramava como uma nascente.
Do alto da torre, Rhogar sorriu em silêncio. "Ele está pronto."
O Olho Interior começaria a se abrir.