Após deixar o Santuário das Chamas Silenciosas, James foi conduzido por Rhogar até um dos setores mais antigos e lacrados da Torre de Essência. Corredores cobertos de símbolos ancestrais se estendiam como raízes tortuosas, e mesmo o ar parecia hesitar ali — carregado, denso, como se respirasse junto com os passos de quem ousava cruzá-lo.
"Esse caminho não está nos registros da Torre." — murmurou James, sentindo a pele arrepiar.
"Nem tudo que é verdadeiro foi feito para ser lembrado." — respondeu Rhogar, com a voz baixa. — "Aqui, James, está o vestígio da Primeira Forja de Essência. O lugar onde os antigos moldavam não só magia, mas a própria alma."
Chegaram a um salão circular, sem portas, sem teto. No centro, uma estrutura viva: um grande espelho líquido, sustentado por veios pulsantes de carne mística que pareciam estar enraizados na pedra. A substância refletia tudo... menos o rosto de James.
"Esse é o Espelho de Si." — disse Rhogar. — "Antes de abrir o Olho Interior, é preciso encarar o portal onde mente, espírito e corpo não podem mentir."
James se aproximou. O espelho ondulava suavemente, como um coração prestes a bater mais forte. Mas quando tocou sua superfície, ela não se moldou à sua mão. Em vez disso, recuou, como se o rejeitasse.
"Ele... não me aceita?"
"Não." — Rhogar se aproximou, sério. — "Você ainda está incompleto. O Olho só desperta quando os três aspectos se alinham. E neste momento, há uma ferida em seu espírito... algo que você se recusa a encarar."
James se calou, mas seus olhos vacilaram. A imagem de Eleanor, o símbolo traçado em seu peito, a dor que o perseguia desde a infância — tudo parecia convergir naquele momento.
"Então, o que preciso fazer?"
"Descer." — disse Rhogar, apontando para uma abertura oculta atrás do espelho. — "Há uma câmara abaixo deste lugar. Chama-se a Matriz de Vontade. Lá, seus medos ganharão forma. Não ilusões, James… mas emanações da sua própria essência. Só enfrentando-as, o portal se abrirá."
James encarou o espelho mais uma vez. Não via seu reflexo, mas sentia sua presença. Era como olhar para uma memória esquecida à força.
"E se eu falhar?"
"Aqueles que falham... se perdem. Não morrem, mas deixam de ser quem eram." — respondeu Rhogar, com brutal honestidade. — "Mas se for bem-sucedido, o Olho Interior se abrirá. E com ele, virá mais do que visão. Virá responsabilidade."
Sem mais hesitar, James caminhou até a abertura e desceu os degraus envoltos em trevas. Cada passo parecia ecoar dentro de si, como se sua própria alma o acompanhasse.
A escuridão abaixo o envolveu como um manto. Mas ali, no fundo do silêncio e da carne ancestral, algo aguardava. Não uma criatura. Não um inimigo.
Ele mesmo.
E apenas ao se encarar sem véus... poderia atravessar o último limiar.