O salão branco para onde James foi levado após a prova final do Espírito parecia existir fora do tempo. Nenhuma janela, nenhum som. Apenas o brilho suave das chamas azuis que dançavam suspensas no ar, girando lentamente em torno de um pedestal de obsidiana.
Ali, o silêncio era absoluto, mas diferente do silêncio da solidão — era um silêncio que ouvia. Um lugar construído não para descansar... mas para revelar.
Kaelya permaneceu à porta, observando-o com um misto de respeito e cautela.
"Este é o Santuário das Chamas Silenciosas." — disse ela, com voz baixa. — "Apenas os que completaram os três Testes são trazidos aqui. E mesmo entre eles, poucos suportam o que acontece a seguir."
James se aproximou do pedestal. No topo, repousava um pequeno fragmento de cristal azul-claro, envolto em uma chama que não queimava, mas pulsava em sincronia com seu próprio coração.
"O que é isso?"
"Um fragmento da Verdade." — respondeu Kaelya. — "Não a verdade do mundo… mas a sua."
Ele estendeu a mão, hesitante. O calor era estranho — não físico, mas emocional. Assim que tocou o cristal, as chamas envolveram seus dedos, subindo por seu braço, contornando sua pele sem machucá-lo.
As paredes do salão se dissolveram em um borrão de luz e memória. Ele viu imagens — memórias que não lembrava ter vivido. Uma batalha entre homens com olhos cinzentos e guerreiros de mantos negros. Um símbolo antigo gravado em pedra, o mesmo que ardia em seu peito. E uma mulher de cabelos prateados, chorando enquanto segurava um bebê envolto em tecido dourado.
"Minha mãe..." — sussurrou, tocando o vazio.
"Fragmentos do Círculo Proibido." — murmurou uma voz ao seu lado. Não era Kaelya. Era Rhogar, surgido em meio à névoa, como um eco de lembrança.
"Você não está sozinho, James. Nunca esteve."
James caiu de joelhos. As visões o esgotavam, mas também o fortaleciam. Não eram apenas memórias — eram fios. E cada fio o conduzia a algo que ele começava a entender... algo que dormia dentro dele.
Quando as chamas se extinguiram, Kaelya se aproximou, com um manto negro dobrado nos braços.
"Este é o traje dos que foram reconhecidos pela Torre." — disse. — "Você é agora oficialmente um Guardião Arcano. Mas a jornada que se abre não pertence à Torre. Pertence a algo mais antigo."
James pegou o manto, mas não o vestiu.
"Sinto que... ainda falta algo."
Kaelya assentiu, séria.
"Sim. O último limiar. O despertar do Olho Interior."
"E onde ele está?"
Ela apontou para a própria testa, entre as sobrancelhas.
"Aqui. Mas para despertá-lo, você terá que caminhar por onde até mesmo os mestres hesitam. A verdade que te aguarda não aceita máscaras... nem segredos."
James inspirou fundo. A Torre de Essência, com todos os seus testes, não era o fim — era apenas o batente do verdadeiro caminho.
"Então me leve até ele."
Kaelya sorriu, mas havia tristeza em seu olhar.
"Não posso. Essa é uma porta que só se abre por dentro."