O reflexo avançou novamente, veloz como um raio partido. James ergueu os braços no último instante, bloqueando o golpe com o antebraço. A força era absurda — não vinda de músculos, mas da convicção crua. Aquela cópia, por mais ilusória que fosse, acreditava ser real. Mais que isso: acreditava ser necessária.
"Você hesita." — murmurou o outro James, empurrando-o para trás. — "Mesmo agora, no limiar da verdade, ainda se recusa a aceitar quem é."
James girou, usando o impulso da investida contra o reflexo, arremessando-o de lado. A figura caiu, rolando pelas névoas, mas levantou-se imediatamente, sorrindo.
"É assim que você quer vencer?" — zombou. — "Com contenção? Com piedade?"
James respirava com dificuldade. O ar ali parecia mais denso a cada movimento, como se o ambiente quisesse sufocar suas dúvidas e forçá-lo a ceder.
"Eu não quero vencer... sendo como você."
"Você já é como eu." — retrucou a cópia. — "Cada vez que finge que sua dor não importa. Cada vez que carrega um fardo que não entende só porque tem medo de perguntar. Cada vez que afasta os outros para protegê-los de si mesmo."
James hesitou, os olhos arregalados.
"Você acha que se tornar forte é se tornar solitário." — continuou o reflexo. — "Mas o que você é... é frágil."
Um novo golpe veio, desta vez mais emocional do que físico: as memórias. Imagens se projetaram nas paredes de névoa — Eleanor virando as costas, Rhogar caído em batalha, Kaelya sangrando sob um feitiço. E por fim, a cena que doía mais: o James criança, sozinho na chuva, esperando por um pai que nunca voltou.
"Chega!" — gritou James, o cristal em sua mão brilhando com intensidade. — "Você não decide quem eu sou!"
A energia do Coração de Myrkanis irrompeu como uma onda. Mas algo era diferente. Não havia raiva. Não havia caos. Apenas clareza. O reflexo vacilou, os olhos se estreitando.
"O que está fazendo?"
"Mostrando a você o que eu aprendi."
James avançou, agora com firmeza. Os golpes já não eram espelhados — eram seus. Fruto de suas próprias escolhas, de seu próprio caminho. Ele não precisava ser o reflexo de nada, nem a sombra de um destino imposto.
O outro James cambaleou. O espelho ao fundo começou a rachar, a imagem tremulando como se o mundo estivesse prestes a colapsar.
"Você vai me destruir." — murmurou a cópia.
"Não." — respondeu James, com um olhar sereno. — "Vou integrar você."
Em vez de finalizar o golpe, ele estendeu a mão. O reflexo olhou para ela, confuso, depois para seus próprios dedos — e pela primeira vez, pareceu duvidar de si mesmo.
Um clarão os envolveu. Quando cessou, o salão estava vazio.
James estava ajoelhado no centro da névoa, o espelho atrás dele reduzido a estilhaços. Sentia-se exausto, mas inteiro. Havia vencido não por destruir seu reflexo... mas por aceitá-lo.
A porta se abriu com um sussurro suave. Kaelya o esperava do outro lado, os olhos arregalados.
"Você... conseguiu."
James se ergueu com dificuldade, o cristal agora apagado em sua mão.
"Não foi uma vitória. Foi uma reconciliação."
Ela assentiu, tocando o ombro dele com leveza.
"Talvez... a mais difícil de todas."