O Salão do Espírito não estava nos níveis mais altos, como muitos imaginavam. Em vez disso, estava oculto sob a fundação da Torre de Essência, abaixo até a mesma Câmara Submersa. James caminhava por um corredor estreito e frio, onde as paredes transpiravam magia antiga, e cada passo parecia afundá-lo mais em um poço de silêncio absoluto.
À sua frente, uma porta de vidro opaco pulsava como se respirasse. Gravada no centro, uma única frase em élfico arcaico: "Conhecer-se é tocar o eterno."
Kaelya o acompanhava até ali. Ela estendeu a mão e tocou o vidro, que brilhou em resposta.
"A partir deste ponto, não posso seguir." — disse ela com a voz contida. — "Esse teste é pessoal. Ninguém atravessa com você."
James concordou, o cristal entregue pela figura no Salão das Correntes Seguro em seu bolso interno.
"Se eu não voltar..." — começou.
Kaelya sorriu, triste. "Então faça com que sua última visão valha a pena."
A porta se abriu com uma sussurro e se fechou assim que ele a atravessou.
O interior do Salão do Espírito era completamente diferente dos testes anteriores. Não havia armadilhas ou obstáculos físicos. Apenas um amplo vazio — um campo de névoa dourada que se estendia em todas as direções. No centro, um espelho.
Alto, sem moldura, flutuava a poucos centímetros do chão. Seu reflexo foi limpo, mas havia algo de errado: James se via... e ao mesmo tempo, não.
Ao se aproximar, a imagem refletida se distorceu. Seus olhos, antes castanhos, tornaram-se negros como a noite. Seus cabelos prateados ondularam com um vento que não existia. A figura no espelho sorriu, fria.
"Então você finalmente chegou."
James arregalou os olhos. A voz viera de fora, não do espelho. Ele se virou, mas não havia ninguém.
"Não se assuste." — disse o reflexo, erguendo a mão de forma idêntica à sua. — "Você sabia que nos encontraríamos. O que pensou que era o Espírito, senão... você mesmo?"
"Você não sou eu." — disse James com firmeza.
Ó reflexo riu. "Claro que sou. Eu sou todas as escolhas que você recusou. Todos os caminhos que teve medo de seguir. Sou o James que abraçou o Coração de Myrkanis sem medo. Que não hesitou em usar o poder que recebeu."
"Usar sem entender é o que nos vence."
"Não. É o que os fracos dizem para explicar a covardia."
A imagem saiu do espelho — não apenas uma projeção, mas uma cópia perfeita, tangível. Ele carregava uma versão escura da armadura de treinamento de James, marcada por símbolos que pulsavam com energia densa.
"Este é o teste, então?" — murmurou James. — "Enfrentar a mim mesmo?"
"Não." — respondeu o outro James. — "Enfrentar quem você precisa se tornar."
E sem aviso, ele atacou.
A primeira troca de golpes foi rápida e brutal. Cada movimento espelhado com precisão assustadora. Era como lutar contra um instinto — contra tudo que James tentava reprimir.
O chão sob os pés se distorceu, as nuvens rodopiando como redemoinhos. Era mais do que uma batalha física. Era um confronto entre vontades.
James descobriu por um instante, puxando o cristal e o apertando com força. As bordas do salão tremeram, e o outro James hesitou.
"Você trouxe algo externo." — disse o reflexo, a voz mais grave. — "Está trapaceando?"
"Estou me preparando." — respondeu James. — "E você... não é invencível."