A madrugada envolvia a torre com seu manto espesso de névoa. James descia os corredores inferiores, guiado apenas pela intuição e pelo estranho bilhete. O caminho o levava a regiões que nem mesmo os mapas da torre ousavam detalhar — corredores onde o tempo parecia hesitar, e os ecos sussurravam segredos de eras há muito esquecidas.
Após descer uma escada espiral de pedra gasta, chegou a uma arcada semicerrada por correntes enferrujadas. Sobre ela, uma inscrição gravada em runas antigas tremeluzia com uma luz azul-pálida: "A verdade acorrenta antes de libertar."
James respirou fundo e atravessou o limiar.
O Salão das Correntes fazia jus ao nome. As paredes estavam cobertas por elos metálicos encantados, e o teto abobadado cintilava com símbolos arcanos que pareciam observar cada passo. No centro, um pedestal de obsidiana sustentava uma máscara partida — metade prata, metade negra.
"Você veio."
A voz saiu das sombras, arrastada e calma. De trás de uma coluna surgiu uma figura envolta em um manto cinzento, o rosto coberto por um véu de seda escura.
"Quem é você?" — perguntou James, sem recuar.
A figura não respondeu de imediato. Em vez disso, caminhou em círculo ao redor dele, como se o estudasse.
"Você chegou mais longe do que previram. Esperavam que tombasse no segundo teste."
"E por que ainda estou aqui?"
"Porque há aqueles que apostam em você. Que veem além do Coração e da linhagem que carrega."
James estreitou os olhos. "Está comigo... ou com eles?"
A figura parou. "Estou com a verdade. E ela, James, raramente escolhe um lado só."
Com um gesto, apontou para o pedestal. "Essa máscara pertenceu a um membro renegado da Ordem Silenciosa. Ele tentou alertar os demais sobre o retorno do Círculo, mas foi silenciado — aqui mesmo, acorrentado pela própria magia que jurara proteger."
James tocou a máscara. Um calafrio percorreu sua espinha. Visões rápidas — uma torre em chamas, gritos abafados, um símbolo espiral marcado a ferro em um peito nu.
"O que querem de mim?"
"Querem que falhe. Que quebre antes de alcançar o Espírito. O próximo teste não é apenas uma provação... é uma armadilha."
James engoliu seco. "Você está me avisando?"
"Estou lhe dando uma escolha." — respondeu a figura. — "Se entrar no terceiro teste despreparado, eles terminarão o que começaram."
"E o que propõe?"
A figura estendeu a mão. Um pequeno cristal azul flutuou sobre a palma.
"Isso revelará o verdadeiro espaço entre as camadas da torre. Use-o dentro do salão do Espírito, e verá o que os outros não veem."
James hesitou. "E por que confiar em você?"
"Porque se falhar, o que carrega será corrompido. E então nem mesmo aqueles que o seguem agora conseguirão contê-lo."
Ele pegou o cristal, sentindo sua energia pulsar em sintonia com o Coração de Myrkanis.
A figura começou a se afastar, dissolvendo-se nas sombras. Antes de desaparecer, murmurou:
"A próxima porta não se abre com força... mas com sacrifício."
James ficou sozinho no Salão das Correntes, o cristal em punho, e um novo peso sobre os ombros.
"Se querem um jogo de véus e facas..." — murmurou. — "Então aprenderão que também sei sangrar por aquilo em que acredito."