O silêncio após a experiência na Câmara Submersa acompanhava James como uma sombra incômoda. As visões ecoavam em sua mente como tambores fúnebres. Cada frase gravada a ferro e fogo. Não fora apenas um teste — fora um lembrete cruel do que carregava... e do que ainda precisava encarar.
Kaelya o conduziu até os andares superiores da Torre de Essência. Ao contrário das alas de treinamento, ali o silêncio parecia ter peso, quase sacro. Os passos dos dois ressoavam abafados sob o teto abobadado, enquanto tapeçarias antigas adornavam as paredes. Cada uma retratava um dos fundadores da Torre, mas havia um detalhe perturbador: todos tinham os olhos apagados — como se não devessem ver o que a Torre havia se tornado.
— "Você precisa ouvir algo," disse Kaelya, com a voz mais tensa do que o habitual. — "Mas antes, saiba que confiar em mim pode lhe custar caro."
James não hesitou.
— "A verdade já custa o suficiente."
Ela pressionou a palma contra uma parede aparentemente sólida. Um clique seco revelou uma abertura estreita, escondida pelas sombras. Um corredor úmido e estreito se abriu diante deles, iluminado apenas por cristais esverdeados incrustados na pedra. Vozes em sussurro vinham do fundo.
Kaelya levou o dedo aos lábios e apontou para uma fenda na parede lateral. James se aproximou, cauteloso.
Do outro lado, um salão oculto. Um espaço amplo, envolto por colunas antigas e uma luz espectral. No centro, três figuras com mantos escuros estavam reunidas ao redor de uma mesa rúnica. Máscaras de prata cobriam seus rostos.
Uma voz masculina soou, fria como metal:
— "O herdeiro do Coração está entre nós. E sobreviveu aos dois primeiros testes."
Outra voz, rouca e desgastada, respondeu:
— "Está mais próximo do que esperávamos. Isso pode nos custar tudo."
A terceira figura falou com calma gélida:
— "Devemos agir antes que alcance o Espírito. Se ele despertar o Olho Interior... não haverá como contê-lo."
James sentiu o sangue esquentar nas veias. Não era só medo — era conhecimento, e nesse ponto, conhecimento é poder. Eles sabiam o que ele carregava. Sabiam o que isso significava. E estavam se movendo contra ele.
Então ouviu algo ainda mais grave:
— "E quanto à moça? A Altheris?"
— "Ainda hesita. Mas se aproximar demais do Hunter pode ser sua ruína. Ele não deve confiar nela por muito tempo."
James recuou como se tivesse levado um soco. Kaelya, percebendo sua reação, o puxou pela túnica e sussurrou:
— "Agora entende? As peças estão se movendo. Não é só você que está sendo testado. É o equilíbrio do reino inteiro."
— "Quem são eles?" — murmurou James, com a respiração presa.
— "A Ordem Silenciosa," respondeu Kaelya. — "Uma aliança secreta entre mestres, nobres e exilados. Eles nunca aceitaram o retorno da linhagem do Círculo Proibido."
James encarou a parede diante dele, como se pudesse atravessá-la com o olhar. As peças se encaixavam lentamente. As provações, os olhares, os sussurros. Tudo fazia sentido agora.
— "Então... eles têm medo."
Kaelya assentiu.
— "E medo, James..." — seus olhos brilharam sob a luz esverdeada — "...é sempre o prelúdio da violência."