A noite caiu com um manto espesso de névoa sobre a Torre de Essência. James seguia pelos corredores inferiores, onde a pedra úmida parecia sussurrar memórias de eras esquecidas. A vitória sobre Alric ainda reverberava entre os aprendizes — mas James sabia que a verdadeira batalha estava apenas começando.
Kaelya o esperava diante de uma porta antiga, esculpida com símbolos que pareciam se mover sob a luz das tochas.
"A Câmara Submersa não está nos registros comuns." — disse ela, enquanto tocava um cristal pendurado no pescoço. — "Foi lacrada após os primeiros anos da Torre, quando um dos fundadores enlouqueceu tentando desvendar o que havia além do reflexo."
James ergueu uma sobrancelha. "Além do reflexo?"
Kaelya hesitou por um instante e então prosseguiu. "Lá dentro, as águas não espelham o que você vê… mas o que você é. Ou o que você tenta esconder."
Ela fez um gesto, e a porta se abriu com um ranger grave.
A escuridão do salão parecia viva. Apenas uma escadaria de pedra levava para baixo, onde um brilho tênue azul-claro tremeluzia no fundo.
James desceu sozinho.
Ao chegar à base da escadaria, encontrou um salão circular, com colunas antigas cobertas de líquen. No centro, uma piscina rasa de água cristalina — e silenciosa.
Nenhum reflexo era visto.
Ele se ajoelhou à beira e olhou para a superfície. Nada.
Mas quando estendeu a mão… o toque quebrou o silêncio.
A água reagiu como se fosse viva, puxando sua consciência para dentro.
James cambaleou para trás buscando recuperar o equilíbrio — mas já não estava mais lá.
Subitamente, encontrava-se de pé em meio a um vasto vazio branco. Ecos de risadas, gritos, suspiros — memórias embaralhadas — passavam ao seu redor como vultos de fumaça.
Uma figura surgiu bem à sua frente: um James mais jovem. Despedaçado, ajoelhado, humilhado. Atrás dele, Eleanor Vellmont, fria, com os olhos cheios de desprezo.
"Você é uma decepção, James." — murmurou a visão. — "Foi por isso que escolhi Kael."
James cerrou os punhos. "Isso é só um eco. Não é real."
A figura de Eleanor sorriu — mas então se transfigurou.
Agora era sua mãe, fraca no leito de morte.
"Você não voltou a tempo, James…"
Depois, Rhogar, sangrando.
"Você é um risco. Não é digno do que carrega."
James caiu de joelhos, ofegante, todas aquelas visões faziam-no se sentir como um fracassado.
A água queria quebrá-lo.
Mas, no fundo daquele vazio, outra voz ecoou. Baixa. Familiar.
"E se eles estiverem certos?"
James ergueu o olhar. No centro do salão ilusório, estava… o verdadeiro James. Aquele que escondia o medo. O que tremia todas as noites com dúvidas e expectativas.
Ele se aproximou do seu eu interior. E pela primeira vez, não recuou.
"Eu não preciso ser perfeito." — disse com a voz embargada. — "Preciso ser verdadeiro."
A ilusão ruiu.
James despertou ofegante, deitado ao lado da piscina.
Kaelya estava ali, olhando em silêncio.
"O que você viu?" — ela perguntou, em voz baixa.
James não respondeu de imediato. Apenas encarou a água que não refletia e murmurou:
"O que eu precisava."