Cherreads

Chapter 14 - Sangue na Terra

Leonard Everhart

O sol mal havia subido no horizonte quando Aldrich me chamou para mais um treino. Mas desta vez, não fomos ao campo de treinamento habitual. Seguimos por uma trilha de terra batida que cortava a floresta, as folhas secas estalando sob nossos pés.

O caminho me pareceu familiar. Quando as árvores se abriram para revelar uma clareira desgastada pelo tempo, reconheci o lugar imediatamente.

Era o mesmo local onde Aldrich lutou contra os lobos cinzentos.

Parei no centro da clareira e olhei ao redor. O cheiro de terra úmida e vegetação misturava-se ao leve aroma de sangue seco, resquício das batalhas passadas. Mas o que realmente chamou minha atenção foram as jaulas de ferro no extremo oposto da clareira.

Dentro delas, pequenas criaturas agitavam-se inquietas. Tinham corpos magros e encurvados, pele esverdeada e olhos amarelos e astutos. Seus dedos finos terminavam em garras sujas, e seus dentes pontiagudos se projetavam para fora da boca. Alguns resmungavam em sua língua grotesca, enquanto outros arranhavam as barras da jaula com ansiedade.

"Goblins?" perguntei, franzindo a testa.

"Sim, são bestas de mana de rank D."

Goblins eram considerados os mais fracos entre as criaturas de mana. Individuais, não representavam uma grande ameaça. Mas em grupo…

"Os goblins não são as bestas de mana de rank D mais fracas?"

"São, mas o objetivo aqui não é testar sua força, e sim sua experiência em combate real."

Meu olhar voltou para as criaturas na jaula. Mesmo sendo fracos, aqueles olhos brilhavam com agressividade.

"Você quer que eu lute contra eles?"

Aldrich apenas assentiu antes de destravar a fechadura da maior das jaulas.

O portão rangeu ao se abrir, e num instante, dez goblins saltaram para fora, soltando gritos agudos e partindo para cima de mim.

Eu travei por um instante.

Um lampejo de memória surgiu em minha mente — um livro que li sobre goblins atacando vilas, dilacerando pessoas comuns antes que os soldados pudessem intervir. Eles eram fracos, mas implacáveis quando em grupo. Se eu cometesse um erro, poderia ser eu no chão, cercado por suas garras e dentes afiados.

Mas hesitar não era uma opção.

"Pilar de Pedra!"

Golpeei o solo com o pé, canalizando mana para a terra. Um pilar de rocha ergueu-se diante de mim, e, com um soco, o projetei contra os goblins.

Dois foram atingidos em cheio e arremessados para trás, seus corpos se contorcendo antes de ficarem imóveis.

Mas os outros oito se dividiram e avançaram por diferentes ângulos.

Ativei minha magia de vento para amplificar minha velocidade e me movi para o lado, desviando da primeira investida. Com um giro rápido, envolvi minha lâmina em chamas e ataquei o goblin mais próximo.

Minha espada atravessou seu peito, e ele soltou um guincho agonizante antes de cair.

Outro goblin pulou sobre mim, segurando uma adaga enferrujada. Inclinei o corpo para trás, evitando o golpe, e contra-ataquei com um chute forte, arremessando-o contra uma árvore.

Os seis restantes se reagruparam rapidamente.

Um deles ergueu um pedaço de madeira e gritou algo incompreensível. No instante seguinte, os outros quatro goblins correram para me cercar, enquanto um deles começou a canalizar mana.

"Eles sabem usar mana?" murmurei, surpreso.

Mesmo sendo fracos, os goblins podem aprender truques básicos de magia. O que significava que eu não podia baixar a guarda.

O goblin conjurador ergueu as mãos, e pequenas esferas de fogo começaram a se formar ao seu redor.

Não dei tempo para que ele terminasse o feitiço.

"Lança de Vento!"

Projetei uma lâmina de ar afiada na direção dele. O goblin sequer teve tempo de reagir antes de sua cabeça ser decepada.

Mas os outros não pararam.

Dois deles atacaram ao mesmo tempo, balançando adagas improvisadas. Saltei para trás e canalizei fogo para minha lâmina.

"Corte Flamejante!"

Desferi um arco de chamas que atingiu os dois goblins ao mesmo tempo. Eles se contorceram, soltando gritos estridentes antes de cair sem vida.

Os três últimos hesitaram, vendo seus companheiros mortos. Mas, em vez de fugir, eles rosnaram e se prepararam para um último ataque desesperado.

Dei um passo à frente, pronto para finalizá-los, quando senti algo atrás de mim.

Um arrepio subiu pela minha espinha.

Rolei para o lado instintivamente—e no mesmo instante, uma lâmina enferrujada passou rente ao meu pescoço.

Um goblin que eu achei estar morto se ergueu, um brilho assassino nos olhos.

"Desgraçado—"

Antes que ele pudesse atacar novamente, enfiei minha espada direto em seu peito.

O goblin engasgou, os olhos arregalaram-se em choque antes de seu corpo tombar para trás.

Eu respirei fundo.

Quase fui morto.

Se não tivesse sentido aquele perigo no último instante, minha garganta estaria aberta agora.

Os três goblins restantes avançaram. Mas desta vez, eu já estava pronto.

Ergui minha mão.

"Explosão de Chamas!"

Uma onda de fogo se espalhou a partir da minha palma, engolindo os três goblins em um clarão intenso. Quando as chamas se dissiparam, apenas cinzas e corpos carbonizados estavam no chão.

O silêncio tomou conta da clareira.

Eu respirei fundo, sentindo a adrenalina se acalmar aos poucos. Meu corpo estava cansado, mas ainda estava inteiro.

E mais importante… eu havia vencido.

Abaixei minha lâmina, deixando a mana se dispersar.

Aldrich me observava com um olhar avaliador, os braços cruzados.

"Nada mal, jovem mestre. Você aprendeu a usar o ambiente e combinar magia com combate corpo a corpo. Mas ainda gasta mana demais com cada golpe."

Eu já esperava essa crítica.

"Vou trabalhar nisso."

Ele assentiu, satisfeito.

"Muito bem. Agora limpe suas feridas. Amanhã, o treino será mais difícil."

De volta à propriedade dos Everhart, fui direto para o banho. A água quente escorria pelo meu corpo, lavando o suor e o cheiro de queimado da luta. Minhas mãos ainda tremiam levemente, não de medo, mas de excitação.

Eu havia lutado contra inimigos de verdade. Criaturas que queriam me matar.

E eu venci.

Mesmo assim, as palavras de Aldrich ecoavam na minha mente.

Você gasta mana demais com cada golpe.

Mordi o lábio, irritado. Eu sabia que ele estava certo.

Decidi testar.

Ergui a mão e tentei conjurar uma simples chama sobre minha palma.

Nada aconteceu.

Franzi a testa e tentei novamente, canalizando a mana com mais cuidado.

Ainda nada.

Minha mana estava esgotada.

O choque percorreu meu corpo. Se eu estivesse em uma luta de verdade contra um inimigo mais forte… eu já estaria morto.

Fechei os olhos e respirei fundo.

Eu precisava melhorar.

Amanhã, o treino seria mais difícil. Mas eu já sabia o que precisava fazer.

E eu não recuaria.

Porque um dia, eu não estaria lutando contra goblins.

Eu estaria lutando contra algo muito pior.

More Chapters