Leonard Everhart
O tempo passou rápido. Seis anos se foram, e agora estava prestes a dar um grande passo: ingressar na Academia de Valmor. Era um momento pelo qual eu havia esperado, treinado e me preparado, mas, mesmo assim, uma leve inquietação se alojava em meu peito.
Lembrei-me das incontáveis manhãs no pátio de treino, onde meu pai e Aldrich me testavam incansavelmente. Os músculos doloridos após cada sessão, as noites em que mal conseguia segurar uma colher para comer. Cada golpe defendido, cada feitiço conjurado com mais precisão tudo havia me preparado para este momento.
Naquela manhã, minha mãe me levou até a cidade de Moketh para preparar meu uniforme escolar. A viagem foi tranquila, com o vento balançando suavemente as árvores à beira da estrada. O céu estava azul, sem nuvens, e o sol projetava sombras alongadas na terra.
"Ansioso, filho?" minha mãe perguntou, olhando para mim com um sorriso gentil.
"Um pouco," admiti, olhando pela janela da carruagem. "É estranho pensar que ficarei longe de casa por tanto tempo."
Ela riu baixinho. "Vai ser uma experiência incrível. Você vai conhecer novas pessoas, aprender coisas que nunca imaginou e... quem sabe até arranjar uma namorada."
Revirei os olhos. "Mãe, por favor…"
Ela apenas riu novamente e, antes que eu pudesse responder, a carruagem parou em frente à loja de roupas.
Assim que entramos, o sino sobre a porta tocou suavemente. O cheiro de tecidos novos e couro fresco preencheu o ar. O ambiente era acolhedor, com prateleiras bem organizadas e manequins elegantemente vestidos.
Uma mulher de meia-idade, de cabelos castanhos presos em um coque bem alinhado, apareceu atrás do balcão. Assim que nos viu, abriu um sorriso caloroso.
"Elena! Há quanto tempo! Como você está?"
"Estou ótima, Charlotte," minha mãe respondeu com animação.
A mulher então olhou para mim e sorriu.
"Oi, Leonard. Está cada vez mais parecido com seu pai."
"Obrigado... eu acho," respondi, sem saber exatamente se era um elogio ou não.
Charlotte riu. "Então, como posso ajudar vocês hoje?"
"Viemos medir e encomendar o uniforme escolar do Leonard," disse minha mãe.
Charlotte arregalou os olhos. "Então já chegou a hora de você ir para a Academia de Valmor?"
"Sim, meu filho já está tão grandinho que eu estou com medo dele arranjar alguma namoradinha e acabar me esquecendo," minha mãe disse com um olhar travesso.
"Vocês duas podem parar?" perguntei, sentindo meu rosto esquentar.
Elas riram da minha reação.
"É só uma brincadeira, querido," disse minha mãe, apertando minha mão de leve.
Suspirei. "Podemos medir o uniforme logo?"
Charlotte pegou uma fita métrica e começou a tirar minhas medidas com precisão. "Você cresceu bastante, vai precisar de um tamanho um pouco maior."
Depois de terminar, ela me entregou o uniforme para experimentar. "Vista isso e me diga se precisar de ajustes."
Fui até o provador e vesti a roupa. Quando saí, minha mãe sorriu com admiração.
A camisa branca de mangas curtas era elegante e bem ajustada, com mangas pretas. No lado esquerdo do peito, o emblema da Academia de Valmor estava bordado em prata: um escudo com um grifo dourado, símbolo da excelência e do conhecimento.
As calças pretas eram feitas de um tecido resistente e confortável, caindo perfeitamente. Os sapatos de couro preto brilhavam, polidos com perfeição.
"Ficou ótimo, filho," minha mãe disse, ajeitando a gola da camisa.
Charlotte concordou. "Sim, esse uniforme combina muito bem com você."
Olhei meu reflexo no espelho. Eu realmente parecia um aluno da Academia de Valmor.
"Ficou perfeito," disse, satisfeito. "Obrigado, Charlotte."
"De nada, querido."
Após sair da loja, minha mãe insistiu para que fôssemos a um barbeiro.
"Agora que o uniforme está pronto, precisamos cuidar do cabelo," ela disse, puxando-me pela mão antes que eu pudesse protestar.
O salão de barbearia tinha um cheiro forte de óleo e ervas. O barbeiro, um homem robusto e de sorriso amigável, examinou meu cabelo e começou a cortá-lo.
Enquanto a tesoura trabalhava, pensei no que estava por vir. A Academia de Valmor era um lugar de excelência, onde apenas os melhores prosperavam. Eu sabia que estava preparado, mas, ao mesmo tempo, sentia um frio na barriga.
Quando o corte terminou, olhei no espelho. Meu cabelo estava mais curto, alinhado e elegante. Era um pequeno detalhe, mas fazia diferença.
"Agora sim," minha mãe disse, satisfeita. "Você está pronto para sua nova jornada."
Ao voltarmos para casa, fui recebido por meu pai, que me aguardava na entrada da mansão. Sua postura imponente e olhar sério demonstravam que queria falar comigo.
"Venha à minha sala, Leonard."
Assenti e o segui.
Antes de entrar, bati levemente na porta.
"Pai, sou eu, Leonard. Posso entrar?"
O escritório de meu pai era espaçoso, com estantes cheias de livros e uma grande lareira que aquecia o ambiente.
"Entre, filho."
Ele estava de pé, olhando pela janela. Assim que entrei, se virou para mim.
"Quero lhe dar um presente antes da sua partida."
Ele caminhou até um suporte e retirou uma espada. A lâmina branca reluzia sob a luz da sala, com detalhes dourados gravados ao longo do gume. A bainha, igualmente branca.
"Essa espada foi forjada especialmente para você," disse ele, entregando-me a lâmina. "Usei materiais raros e pedi aos melhores ferreiros do reino para garantir que fosse perfeita."
Segurei a espada, sentindo o peso dela em minhas mãos. Era perfeitamente equilibrada.
"Eu adorei, pai. Obrigado."
Ele assentiu, colocando a mão sobre meu ombro. "Que ela te ajude a trilhar um caminho de glória."
Após me despedir, subi ao meu quarto para pegar minhas malas. O peso delas não era nada comparado ao peso da responsabilidade que sentia.
Ao sair da mansão, encontrei Ella me esperando ao lado da carruagem.
"Jovem mestre, sua carruagem está pronta para partir," disse ela com um sorriso discreto.
Minha mãe se aproximou e me abraçou com força. Seu aperto era firme, como se quisesse gravar aquele momento na memória.
"Se cuide, meu filho," ela sussurrou, sua voz embargada.
"Tchau, Ella," disse, forçando um sorriso para a empregada.
Ela sorriu.
"Vá logo antes que a senhora veja você partindo e comece a chorar."
Soltei um riso baixo e entrei na carruagem.
As rodas começaram a girar, e a mansão Everhart ficou para trás. Meu coração batia rápido. Eu estava a caminho da Academia de Valmor.
Enquanto a carruagem avançava pela estrada de paralelepípedos, olhei pela janela, observando a paisagem mudar lentamente. A sensação de estar deixando tudo para trás era estranha, mas ao mesmo tempo empolgante. A Academia de Valmor me aguardava, e eu estava pronto para enfrentar esse novo desafio.