Brookside amanhecia sob uma névoa espessa, como se o próprio mundo quisesse esconder o que havia acontecido na noite anterior.
Meus passos ecoavam no empedrado molhado enquanto eu voltava à praça. O local parecia comum de novo — barracas de frutas sendo montadas, o cheiro de pão fresco se espalhando —, como se não tivesse sido o cenário de um quase desastre mágico horas atrás.
Mas eu sabia que o perigo não evaporava tão fácil quanto orvalho.
No centro da praça, onde Sethram havia desaparecido, encontrei um pequeno círculo de terra queimada. Me agachei, estendendo a mão sobre as cinzas ainda quentes. Foi então que o vi: um fragmento de cristal negro, parcialmente enterrado, pulsando como um coração moribundo.
Toquei-o com a ponta dos dedos, invocando uma pequena teia de essência para senti-lo melhor sem absorver a energia diretamente.
Foi como mergulhar a mão em um lago congelado.
Arrepios percorreram minha espinha quando captei a vibração contida naquele minúsculo artefato: uma magia antiga, primitiva, diferente até mesmo das linhas arcanas que costurava todos os dias. Inscrições finíssimas riscavam sua superfície, como runas zumbindo em agonia.
⦁ Você não deveria estar aqui... — sussurrei.
A língua das inscrições era familiar. Muito familiar. Meus estudos nas madrugadas silenciosas da torre de Everston retornaram à mente: Eldrith, o culto dos Tecelões Perdidos, que acreditavam poder reescrever a própria essência da existência.
Ninguém falava de Eldrith em voz alta. Não porque fosse proibido. Mas porque era inútil mexer com fantasmas tão antigos.
Ou assim pensávamos.
Guardei o cristal dentro de um amuleto de contenção, prendendo-o contra o peito. Imediatamente, senti o peso da coisa, como se estivesse carregando uma escolha terrível antes mesmo de saber qual seria.
A névoa ao redor pareceu se adensar, e por um momento, juro que ouvi murmúrios flutuando no ar — ecos de uma língua esquecida tentando voltar ao mundo.
Me levantei, o cristal queimando levemente contra minha pele.
Sethram não estava sozinho.
E se ele pretendia trazer de volta os Tecelões Perdidos... então Everia estava em perigo muito maior do que qualquer um imaginava.
Olhei uma última vez para a praça — para as pessoas rindo, vendendo, vivendo — e prometi a mim mesma:
Eu descobriria toda a verdade.
Nem que para isso tivesse que tecer a essência do próprio destino.