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Chapter 17 - O Primeiro Dia

Leonard Everhart

A luz do sol atravessava a janela e esquentava o quarto, me tirando do sono aos poucos. Pisquei algumas vezes, tentando me acostumar com a claridade, e soltei um bocejo preguiçoso antes de me sentar na cama.

Ainda meio sonolento, me arrastei até o banheiro para lavar o rosto e escovar os dentes. A água fria ajudou a despertar, mas o sono ainda pesava um pouco.

"Bom dia, Leonard."

Olhei para Renjiro, que já estava vestido com o uniforme da academia. Pelo visto, acordou antes de mim.

"Bom dia, Renjiro."

"É melhor se apressar, já está quase na hora do café da manhã."

"Espera um minuto."

"Tudo bem, eu espero."

Depois de terminar minha higiene pessoal e vestir o uniforme, saímos do quarto. Tranquei a porta e guardei a chave no bolso.

No caminho para o refeitório, passamos por um homem sentado atrás de um balcão. Ele tinha cabelo curto e olhos escuros, e nos observava calmamente.

"Bom dia!" Falei.

"Bom dia." Respondeu Renjiro.

"Bom dia, alunos." Respondeu o homem.

O homem nos encarou por um momento antes de se apresentar.

"Meu nome é Matteo Smith. Sou responsável por guardar as chaves deste dormitório."

"Entendi." Tirei a chave do bolso e entreguei a ele.

"Obrigado. Tenham um bom dia."

"Até mais."

Renjiro se curvou levemente.

"Até mais, senhor."

"Não precisa de toda essa formalidade, garoto." Matteo riu, um pouco sem jeito.

"Vamos logo, Renjiro. Se demorarmos, ficamos sem café."

"Estou indo! Até mais, senhor!" Renjiro acenou e correu para me alcançar.

Assim que chegamos ao refeitório, nos deparamos com vários alunos já reunidos. O ambiente era simples, mas bem organizado. O chão de madeira polida refletia a luz que entrava pelas grandes janelas, e as mesas longas de carvalho estavam dispostas em fileiras, cada uma acompanhada de bancos compridos. O cheiro de pão recém-assado se misturava com o aroma suave do chá e suco servidos nas jarras de barro sobre um balcão lateral.

"Parece que vamos ter que esperar um pouco." Renjiro comentou.

"Vamos logo."

A fila se movia devagar. Muito devagar.

Que droga, isso vai demorar.

"Não precisa ficar tão desanimado."

"O quê?"

"Eu disse para não ficar tão desanimado. Acalme sua mente para que os pensamentos desnecessários não te atrapalhem."

"Isso foi profundo…"

"Você vai entender melhor algum dia."

Quando finalmente chegou a minha vez, uma senhora de cabelos castanhos colocou dois pães e uma maçã na minha bandeja.

"Aqui está, garoto."

"Obrigado, senhora."

"De nada, jovem."

Logo em seguida, outra mulher, essa de cabelos loiros, me entregou um copo de suco.

"Obrigado."

"De nada."

Saí da fila e esperei Renjiro, que não demorou a se juntar a mim.

"Vamos comer?"

Sentamos na primeira mesa vazia que encontramos e começamos a comer.

"Você está nervoso para a primeira aula?"

"Não. Por quê?"

"Eu estou um pouco. Nunca estive longe de casa antes. É meio estranho."

"No começo pode ser, mas você se acostuma."

"Uau, você já tá acostumado então?"

Parei por um momento. Na verdade, passei quase toda a minha vida passada longe de casa por causa da guerra. E nesta vida, nunca saí da mansão Everhart.

"Foi meio estranho no começo, mas agora estou tranquilo."

Antes que Renjiro pudesse responder, uma voz feminina soou atrás de nós.

"Oh! Então você já está explorando o mundo agora?"

Me virei para ver quem era. Uma jovem de cabelos prateados e olhos azul-gelo nos observava com um sorriso, acompanhada por duas garotas. Todas vestiam camisas de mangas azuis.

"Há quanto tempo, Leonard."

"Sim, faz um tempo."

Renjiro me olhou confuso.

"Quem é essa?"

Antes que eu pudesse responder, uma das garotas, de cabelos roxos e olhos castanhos, bufou.

"Como assim você não sabe quem ela é? Essa é Elysia Ravenshire, herdeira da Casa Ravenshire."

A outra garota, de cabelos verdes e olhos dourados, olhou para mim.

"Você deve ser Leonard Everhart, certo?"

"Sou. Algum problema?"

"Ouvi dizer que você é bem forte. Estou animada para te enfrentar."

"Tem certeza disso?"

"É claro!"

"A arrogância pode ser um problema…"

"Ah, por favor, me poupe das lições de moral."

Meus olhos se estreitaram. Essa garota… O tom de voz e a postura dela me irritavam.

O refeitório, que até então estava barulhento, ficou em silêncio aos poucos. Os alunos próximos começaram a prestar atenção na conversa. Alguns até cochichavam, especulando se haveria uma briga.

"Já chega, Briana." Elysia a repreendeu.

Briana fez uma careta e cruzou os braços, mas ficou em silêncio.

"Briana, seja educada e se apresente."

Ela suspirou, claramente contrariada.

"Briana Werdum, herdeira da Casa Werdum."

A outra garota sorriu gentilmente.

"E eu sou Sofia Halteres, terceira filha da Casa Halteres."

"Entendi."

"Desculpe, Leonard. Mas o que você fez há seis anos te tornou famoso."

"Foi um prazer revê-la, Elysia."

"Igualmente. Até mais, Leonard."

Ela acenou e seguiu com as amigas. O burburinho voltou ao normal no refeitório.

Depois do café, seguimos para a sala dois. O ambiente era amplo, com janelas altas que deixavam a luz do sol iluminar o espaço. As mesas eram longas, feitas de madeira escura, cada uma acomodando vários alunos.

Pouco depois, uma mulher de cabelos longos azul-escuros entrou na sala e caminhou até a lousa.

"Bom dia, alunos."

Os cochichos começaram.

"Quem é essa?"

"Será que é nossa professora?"

"Amanhã que tal sairmos?"

"Eu vou treinar."

Ela limpou a garganta, e a sala ficou em silêncio.

"Sejam bem-vindos à Academia Valmor. Meu nome é Nyvi Lavoie e serei sua professora de magia."

Ela respirou fundo antes de prosseguir.

"Hoje, vamos descobrir a parte teórica sobre magia elemental e magia arcana. Já que já sabem sobre magia elemental, vamos para magia arcana."

Uma garota de cabelos curtos e rosa levantou a mão.

"Professora, o que é magia arcana?"

"Um usuário talentoso pode evoluir sua magia elemental para algo mais poderoso. Por exemplo, o fogo pode evoluir para relâmpago."

Outro aluno, um garoto alto de cabelos pretos bagunçados, perguntou:

"Todos podem usar magia arcana?"

"Apenas os talentosos e habilidosos."

Ela se virou para a lousa e começou a escrever.

Após alguns segundos, ela se afastou, revelando o quadro:

Fogo → Relâmpago

Água → Gelo

Vento → Som

Terra → Metal

"Essas são algumas das evoluções possíveis da magia elemental para a magia arcana. Mas, ao contrário da magia comum, a magia arcana exige não apenas talento, mas um domínio profundo sobre seu próprio poder."

Ela fez uma pausa e ergueu a mão direita, posicionando-a levemente acima da mesa à sua frente. Uma esfera de água cristalina começou a se formar no ar, girando lentamente, refletindo a luz do sol que entrava pela janela.

Os alunos observavam atentos, alguns inclinando-se para frente em expectativa.

"Agora, vejam a transformação."

Com um simples movimento dos dedos, a água começou a brilhar com um tom azulado. Então, em um instante, ela endureceu, tomando a forma de um cristal de gelo afiado. A temperatura ao redor caiu levemente, e uma fina camada de gelo se formou na superfície da mesa.

Alguns alunos prenderam a respiração.

"Impressionante…" murmurou alguém ao fundo.

Nyvi abriu um pequeno sorriso e fechou a mão, fazendo o gelo se despedaçar em pequenos fragmentos cintilantes, que se dissiparam no ar como poeira de neve.

"Essa é a minha magia arcana: a magia de gelo." Sua voz era calma, mas firme.

Os alunos começaram a cochichar entre si, animados e curiosos. Alguns olhavam para as próprias mãos, como se tentassem imaginar qual seria sua evolução arcana.

"Professora!" um aluno de cabelos curtos perguntou, levantando a mão. "Como podemos despertar nossa magia arcana?"

Nyvi cruzou os braços e respondeu com um olhar afiado:

"Treinamento, esforço e, acima de tudo, compreensão verdadeira da sua própria magia."

O burburinho aumentou. Uns pareciam animados, outros um pouco apreensivos.

O sinal tocou, encerrando a aula.

"Nos vemos na próxima aula."

E assim, meu primeiro dia na Academia Valmor começava de verdade.

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