EPISÓDIO 4 – Escolher Também É Se Perder
Narrado por Ju-kyung
Nunca fui boa em decisões grandes.
Escolher o sabor do sorvete, a cor do esmalte, o que vestir… isso eu até dominava. Mas decidir o rumo da minha vida? Escolher entre o que esperam de mim e o que eu realmente quero? Isso sempre me paralisou.
Minha mãe colocou uma pilha de panfletos sobre a mesa. Universidades. Cursos. Faculdades de prestígio que ela pesquisou com todo o amor — e toda a expectativa do mundo.
— Você precisa começar a pensar, Ju-kyung. O prazo de inscrição tá aí.
Assenti em silêncio. Mas, por dentro, estava vazia.
Não sabia onde queria estar. Só sabia onde não queria: presa.
No meu quarto, peguei um dos folhetos e folheei distraidamente. Design gráfico. Artes visuais. Comunicação. Tantas possibilidades, tantos nomes bonitos. Mas nenhum deles me fez sentir algo. Era como se todos pertencessem a alguém que eu ainda não era.
Deitei na cama com o folheto no peito. O teto parecia mais reconfortante que qualquer futuro incerto.
Meu celular vibrou.
Hee-kyung: "Vi umas bolsas de estudo em Paris! Quer que eu te mande?"
Sorri, mesmo sozinha. Ela sempre sonhou alto por mim. E, por um momento, imaginei: eu, em Paris, desenhando em cafés, andando por ruas com nomes difíceis, recomeçando longe de tudo.
Mas a imagem durou pouco. Porque na vida real, eu ainda estava parada no mesmo lugar.
Na manhã seguinte, fui até a escola antiga para buscar alguns documentos. Passar pelos corredores vazios me trouxe uma onda de nostalgia. Era ali que tudo começou. Minhas inseguranças. Meus medos. Meus disfarces.
Na secretaria, enquanto assinava os papéis, ouvi uma voz conhecida.
— Ju-kyung?
Virei devagar. Era a professora Mi-ran, a única que nunca me tratou como "a garota bonita" ou "aquela que se maquiava bem". Ela sempre me enxergou como algo além disso.
— Que surpresa! O que faz aqui?
— Só buscando papéis… tentando decidir o que fazer agora — respondi, sem esconder meu tom cansado.
Ela sorriu de um jeito gentil.
— Ainda desenha?
Assenti.
— Todos os dias.
— Então já sabe o que quer. Só não tem coragem de admitir.
Fiquei em silêncio. Talvez ela estivesse certa.
Naquela noite, decidi organizar meus cadernos de desenho. Entre eles, encontrei um antigo, da época em que escondia tudo — minha aparência, meus sentimentos, minhas feridas. Abri na primeira página.
Era um autorretrato. Mas não um bonito. Um com olhos borrados, rosto assimétrico, expressão confusa.
E por algum motivo, aquele desenho me fez chorar.
Chorei por tudo que guardei. Por tudo que fingi. Por todos os dias em que me odiei antes de aprender a me ver.
Depois, fechei o caderno. E peguei um novo.
No dia seguinte, aceitei o convite da minha irmã para visitar uma pequena feira de design local. Ela queria me mostrar como era a vida real de quem vivia da arte.
Foi como entrar num mundo paralelo.
Tantas cores, ideias, estilos. Pessoas expondo seus trabalhos com orgulho. Jovens como eu vendendo adesivos, camisetas, prints. Havia talento ali. Mas também coragem. A coragem que eu ainda não sabia se tinha.
Passamos por um estande onde uma garota sorridente vendia pôsteres desenhados à mão. Conversamos um pouco. Ela contou que largou a faculdade de direito para seguir o sonho de ilustrar livros infantis.
— Foi difícil — ela disse. — Mas nada dói mais do que se trair todos os dias.
Aquela frase ficou grudada em mim.
Voltamos para casa no fim da tarde. No metrô, Hee-kyung me olhou de lado.
— Viu como é possível?
— É. Mas não sei se sou feita pra esse tipo de coragem.
— Ninguém é. Até que decida ser.
Sorri. Minha irmã sempre soube me empurrar devagar, sem forçar. Só mostrando o caminho com a lanterna dela acesa.
Em casa, sentei sozinha no jardim dos fundos. O sol começava a se pôr, e o céu estava pintado em tons que nenhuma paleta conseguia copiar.
Peguei meu caderno novo. Escrevi na primeira página:
"Não preciso saber tudo agora. Mas preciso me permitir tentar."
E desenhei.
Dessa vez, não desenhei o passado. Nem o medo. Nem um rosto conhecido.
Desenhei a mim mesma… caminhando em direção ao desconhecido.
Fim do Episódio 4