O retorno de Therys a Khaeryon foi silencioso.
A missão em Mirhan havia durado semanas, e ele voltava mais magro, com olheiras fundas e o olhar ainda mais sério. O garoto que hesitava antes de agir agora era um jovem que carregava peso demais nos ombros — e sabia disso.
Vhaen o esperava na entrada do templo, como se soubesse o exato momento em que ele chegaria.
— A torre caiu? — perguntou o mestre.
Therys assentiu.
— Mas a magia continua viva. Estava dentro de um menino. Não era culpa dele.
— E você o salvou?
— Contive. Salvar... talvez seja cedo pra dizer.
Vhaen apenas sorriu.
— Está aprendendo a diferença entre poder e controle.
Enquanto isso, Rhaziel seguia pelo sul.
Após derrotar o espírito de cinzas, decidiu não voltar. Queria mais. Sentia algo crescer dentro de si — não só magia, mas inquietação. Seu fogo havia mudado. Não era só destrutivo, agora reagia a emoções mais sutis.
— Quando estou calmo, ele brilha mais — murmurava, observando as fagulhas que dançavam ao redor de suas mãos.
Em seu caminho, cruzou aldeias, cruzou desertos de pedra. Um dia, encontrou uma caravana sitiada por bandidos. Não hesitou. Desceu do cavalo, ergueu os braços e fez chover fogo — sem matar, apenas afastando, assustando.
— Um mago que usa as chamas sem matar... — disse um velho comerciante. — Isso não é comum.
— Não sou comum — respondeu Rhaziel, com um sorriso enviesado.
Foi nesse dia que conheceu Alenna, uma das arqueiras da caravana. Cabelos dourados como trigo, olhos de mel, passos firmes. Não parecia impressionada com seu fogo — e isso o encantou.
— Poderoso, mas inconsequente — disse ela. — Se tivesse errado aquele raio, queimaria a minha carroça inteira.
— Talvez eu tenha mirado bem porque você estava olhando.
Ela não riu. Só o encarou, séria.
— Aprenda a dominar seu ego como domina suas chamas.
Naquela noite, ele pensou nela. Muito.
Therys, em Khaeryon, passava horas trancado na biblioteca do templo. Lia sobre a Magia da Graça, um poder perdido que, segundo os antigos registros, só despertava em pessoas que entendiam o equilíbrio de sua essência.
— Magia que flui entre os extremos — sussurrou ele. — Nem quente, nem fria. Nem luz, nem trevas.
O pergaminho dizia que, se um gelo e um fogo conseguissem se unir sem anular um ao outro, algo novo surgiria. Um terceiro tipo de magia. Um estado além do elemento.
Therys fechou os olhos. Sentiu, pela primeira vez, que seu irmão — apesar da distância — estava pensando nas mesmas coisas.
E, naquele instante, Rhaziel, sozinho ao redor de uma fogueira, também olhou para as chamas e murmurou:
— Será que a gente vai se encontrar antes de se perder?