Naquele mês, o templo recebeu visitantes.
Três magos vieram do sul. Vestiam mantos longos, adornados com símbolos de vento, terra e trovão. Suas presenças mudaram o ar. Não falavam muito. Observavam. Avaliavam.
Vhaen apresentou os irmãos a eles no Salão das Fontes, um espaço antigo onde as energias elementares fluíam em canais no chão, como rios de luz.
— Estes são Therys e Rhaziel, os gêmeos da profecia — disse Vhaen. Sua voz era neutra, mas havia peso ali.
Um dos magos, alto, pele escura como terra molhada, os encarou longamente.— Eles ainda são crianças.
— E estão prontos para o primeiro teste real — respondeu Vhaen.
Na noite seguinte, foram levados ao desfiladeiro de Hvarin. Lá, nas fendas profundas das rochas, viviam as feras de pedra, criaturas nascidas da terra e encantadas com magia selvagem. Não obedeciam a ninguém. Nem mesmo aos magos.
O objetivo era simples: atravessar o desfiladeiro e retornar com uma pedra viva — um fragmento cristalizado do coração de uma das feras. Só assim poderiam provar que dominavam seus dons de forma equilibrada.
— Não se trata de vencer — disse Vhaen antes da partida. — Mas de sobreviver sem perder quem vocês são.
A noite caiu densa. Os irmãos caminharam entre as sombras das rochas. O frio da altitude se misturava ao calor que Rhaziel emanava sem perceber. A cada passo, o silêncio parecia mais denso.
A primeira fera surgiu como um tremor. Uma massa cinzenta, com olhos dourados e cascos que rachavam o chão.
Therys reagiu primeiro, erguendo um escudo de gelo sobre eles. Rhaziel girou ao lado, disparando um círculo de fogo ao redor da criatura para distraí-la.
— Direita! — gritou Therys.
Rhaziel correu. Saltou sobre uma pedra, usou uma explosão curta para se impulsionar no ar e caiu atrás da fera. Uma rajada atingiu sua lateral, mas o gelo de Therys congelou a perna da criatura no momento certo.
Trabalharam juntos. Não falavam muito — não precisavam. Os movimentos estavam começando a se ajustar como peças de uma mesma engrenagem.
Quando a fera caiu, exausta, uma pedra viva rolou de seu peito como um coração arrancado.
Therys a pegou. Era morna e pulsava levemente.
No retorno, caminharam em silêncio. Os magos os esperavam em um círculo de pedra. Vhaen não sorriu, mas os olhos dele brilharam por um instante.
— Eles passaram — disse. — E não quebraram nada dentro de si.
Naquela noite, sozinhos na ala dos discípulos, Rhaziel acendeu uma pequena chama e a deixou pairar sobre a palma.— Acho que… começo a entender.
Therys assentiu, observando a pedra viva sobre a mesa.— O poder não é só para proteger os outros. Também é para não nos perdermos.
Lentamente, a chama e o cristal começaram a brilhar com a mesma cor: âmbar dourado, o tom de quem começa a ouvir a própria alma.