A escada de névoa levava a um lugar onde o tempo não fazia sentido. Não havia luz nem sombra. Era um limbo onde o próprio ar parece julgar sua presença.
James chegou a uma plataforma flutuante, circular, feita de obsidiana viva. Ao centro, uma mesa com duas cadeiras.
Sentado em uma delas… estava ele mesmo.
Ou quase.
O reflexo era mais velho. Cabelos grisalhos. Olhar resistido. As roupas eram de um arcano consagrado — um Lorde dos Nove Círculos. E o Coração de Myrkanis em seu peito brilhava com uma luz púrpura pulsante.
— "Então você finalmente chegou." — disse o outro James. — "Para decidir se merece existir."
James ficou parado. Algo naquela versão sua… o apavorava.
— "Você é uma projeção." — murmurou. — "A Torre me enganando."
O outro sorri com tristeza.
— "Sou a resposta que você busca… e o preço de encontrá-la."
O ar se alterou. Ao redor da plataforma, espelhos emergentes — flutuantes, como olhos. Cada um mostrou uma cena:
Sua mãe sendo levada por soldados.
Eleanor rindo nos braços de Kael Meryon.
Seus antigos companheiros de guilda expulsando-o sob vaias e xingamentos.
Cada cena se repetia em loop, como se fossem feridas que não cicatrizavam.
— "Você carrega ódio, James. E se não o domar... ele será tudo o que restará." — disse o reflexo.
James cerrou os punhos.
— "Eu não escolhi isso. Nunca quis perder ninguém. Nunca quis esse maldito artistas cravado no meu peito."
O outro James se levantou. Estava mais alto. Mais sólido.
— "Mas agora você tem. E se continuar mentindo para si mesmo, se seguir com esse coração partido, será fácil demais... se tornar eu."
James Cambaleou. As memórias o esmagavam.
Ele viu sua mãe olhando para trás pela última vez.
Sentiu o gosto do sangue na boca quando caiu diante de Kael.
Ouviu o riso cruel de Eleanor ecoar pela sala da guilda.
— "Pare…" — ele sussurrou.
— "Então prove que é mais do que isso." — o reflexo berrou. — "Mostre que não vai repetir tudo que jurou vencer."
As sombras ao redor começaram a se agitar. O reflexo de James agora se transformava em versões diferentes: um tirano. Um assassino. Um rei louco com olhos vazios.
Todas elas, versões de si mesmo… corrompidas.
E todos o atacaram.
James invocou o vento, mas ele se dissipou.
Chamou o fogo, mas as chamas se apagaram.
Era a mente dele. A ilusão dele. E ali, a magia não respondia.
Só restava ele. E sua vontade.
James comentou. Não de raiva, mas em tom de libertação.
— "Eu não sou você!" — disse ao reflexo, cravando o punho cerrado no peito do impostor.
A plataforma tremeu.
Os espelhos se despedaçaram.
As ilusões se desfizeram como fumaça.
Quando abriu os olhos, estava novamente diante da escada, que agora o levava para o terceiro e último teste.
E ouviu, não a voz da Torre… mas uma voz que vinha de dentro.
— "A mente resistiu à escuridão. Agora, resta o Espírito."
James respirou fundo.
Subiu.
Não como um guerreiro.
Mas como um homem que começara a compreender a si mesmo.